sábado, 21 de dezembro de 2019

Seguindo contra o vento
                                                                                                                       
                                              Um dia seremos alados,                                                                                                                                     Voando seguindo o vento,                                                                                                                                  Então, ficaremos calados,                                                                                                                                   Indo contra o sentimento.                                                                                                                                          Marilina Baccarat


Passamos a vida toda enfrentando o vento, quando viramos uma curva e vamos contra ele... Mas, há pessoas que não sabem enfrentar o vento, só andam a favor de qualquer rajada... Olhamos, em volta, notamos que só se veem pessoas desanimadas, que nunca abarbaram uma ventania, pois, nem passado elas o têm... Enfrentamos rajadas, tempestades e nos acostumamos com elas, ficamos dias e noites relembrando os caminhos por onde passamos, afrontando o vento...
 Caminhando contra o vento, incluímos flores nas passagens, que o vento faz, enquanto muitos não as consegue vivenciá-las... Acostumamo-nos, desde pequeno, a ultrajar os vendavais e vamos introjetando, na gente mesma, a coragem para defrontar-se com eles..
Quando estamos tristes, ou os nossos dias estão sem sentido, como se tudo estivesse cinza, vem, sempre, o favônio, com a melhor das intenções, dizer-nos para continuarmos...
Mas, como consolo, para tanto ventar de tristeza, que cai sobre a gente, ele nos arenga, interiormente, como se estivéssemos insensibilizados: – pare de reclamar, é só seguir em frente que há muitos caminhos floridos, pela frente, onde há vento e pode-se seguir contra ele, ou a favor dele...
Então seguimos essas ventanias e encontramos gente, que se acha o máximo por ter ventos de alegrias, e nós, com tantas esfinges, nos achamos ineficazes... Achamo-nos infelizes, mas, se voltarem as rajadas, que arrancam as grades das janelas, para trazer a felicidade, a gente vai ver que somos é muito venturoso, pois, temos o direito de sentir o vento e viajar com ele, pelas recordações... Sentimos que os sopros dos ares, que são prósperos, permanecem em nossas mentes para serem sentidos, por isso, eles afloram em nós...
 Precisamos dar vazão às aragens, deixar que elas se manifestem em nós. Se precisar chorar, a gente chora, se necessitar espernear, a gente esperneia, se carecermos de gritar, a gente grita...
Sentimos raiva, experimentamos a dor, mas, percebemos a alegria..., mas, em nós, a compaixão tem seu lugar, quando sentimos tudo isso... Subestimamos as brisas, que trazem a felicidade, tornando-as pequenas, fingindo não as perceber..
Regozijamo-nos com pequenas passagens das refegas, mas, esquecemos dos grandes vendavais, que já passaram pela gente...
Sentimos setembro aproximando-se, é o mês em que a primavera traz, de volta, pequenos tesouros, que estavam guardados, intumescidos na terra... Deslembramos de que algo de bom acontece para a gente, na primavera...
 Temos flores e perfumes, que exalam das floradas... E ficamos sumarentos, perfumados, continuando a caminhar contra o vento... Existe, sempre, um dia para vivenciarmos reminiscências de uma época da nossa vida, em que foi possível sonhar, fazer planos e realizá-los, mesmo com as dificuldades que as ventanias colocaram à nossa frente...
Um dia, para encantar a vida e viver seguindo as brisas, com toda a intensidade, sem medo de sentir, nos alvitres da vida, a tristeza, que, vez ou outra, aparece... Nesse dia, tudo vai parecer cinzento, mas, poderemos recriá-lo, vesti-lo com todas as cores do arco-íris, entregar-nos a todas as fugacidades, como se estivéssemos voando com uma roupa feita sob medida, caindo muito bem em nosso corpo. Voaremos até às alturas alcandoradas, sempre junto às lufas, que nos levarão... Seria um dia para termos coragem de enfrentar todos os desafios, que as refegas tristes nos trouxeram e teremos disposição para tentar fazer das tristezas, que, até nós, chegaram, algo, que nos eleve, nos transportes a voarmos alegres, felizes, com o sopro...
Seria maravilhoso ter um dia somente para nos tornarmos alados, juntos com as rajadas... Sentaríamos na varanda e, olhando as flores do jardim, imaginaríamos momentos felizes, outros, menos, mas, todos com suas maneiras de ser, que nos dariam uma alegria imensa, como se pássaros fossemos...
Abandonaríamos o presente e volveríamos ao passado, onde, outrora, andamos seguindo, muitas vezes, para os caminhos tortuosos, mas, ao chegarmos ao fim, ali, encontraríamos o descanso, que tanto desejamos... Caminhar contra o vento são caminhos estranhos mesmo. Ora nos levam juntos, a dançar e faz-nos lembrar do pregresso, até da valsa, que dançamos aos quinze anos, com o pai... Levam-nos a lembrar as alegrias, do passado, o sorriso das pessoas, a porta da rua por onde passamos um dia, seguindo caminhos tão diferentes...
 Quando caminhamos contra o vento, ele tem a duração do instante em que passam em um segundo... Um dia, em que é fugaz em nossa vida, mas é um dia especial, que reservamos para, junto ao vento, relembrar o passado...
Um dia, para voarmos contra o vento, seria o presente e poderia ter a duração da eternidade. Afinal, gostaríamos que o vento nos levasse a voar. Todos somos assim, queremos ter um dia para voejar, contra, ou a favor, não importa. O essencial é poder sermos alados e, com o vento, voar...

sábado, 7 de dezembro de 2019

Nas Curvas do Passado

O passado, nas curvas, que fizemos, foram, algumas vezes, comoventes, em outras, destrutivo, mas, dele renascemos para viver nas recurvas do presente, sem dor e destruição, pois, conhecemos o verdadeiro significado da vida... Vivemos, no presente, procurando isolar o passado, que surge, sempre, em nosso viver no evidente... Revelações, que seguem desvendando os acontecimentos, que nos trouxeram até aqui... Muitas vezes, sem conseguirmos reagir à dor, prejudicamo-nos, cada dia mais, afundando-nos nas arestas do passado e em suas tristezas, que, por nós, passaram... Mas, no cenário da atualidade, surge um tempo de extrema desolação, o qual deveremos vencê-lo, com a possibilidade de vivermos o atual tempo, com amor... Perdemo-nos, às vezes, na vasta escuridão do ocorrido, à qual nos rendemos, mas, conseguiremos enlaçar-nos no presente, que seria a única saída, para vivermos bem o atual tempo, sem nos preocuparmos com as esquinas em que passamos e o que deixamos para trás... O recente far-nos-á colocar o passado de lado e viver o instante atual, conhecendo a felicidade nas circunflexas do presente...
Somos fortes para enfrentar as tempestades, que, por acaso, surgirem nas aduncas do tempo atual e esquecermos as curvas do passado, onde havia ventos a nos carregar para trás... 
Claro que o passado, em suas entortadas, quando caminhávamos, em suas esquinas, nos trouxe grandes angústias, mas, agora, nas vergadas do presente, pensamos diferente e enfrentaremos qualquer discórdia, que, por acaso, surgir... Dobramos muitas esquinas no passado, sempre com o vento soprando contra nós. Mas, soubemos vencer, procurando outras arestas, onde o ventar nos levava para outros caminhos, onde, ali, encontrávamos a tranquilidade de que tanto necessitávamos... 
Hoje, caminhamos nos fastígios do presente, sempre com o nosso olhar voltado para o horizonte, com a esperança de que os vértices do tempo não nos deixem amargurados... 
Seguimos outras direções, procurando outras esquinas, onde a coragem se faz presente, para que possamos enfrentar todas as tempestades, sejam com trovões, ou não... Temos, então, a capacidade de nos reerguermos e enfrentarmos as arestas da vida com toda a intrepidez, que, a nós, é doada... Marilina Baccarat de Almeida Leão
No livro "Vértices do Tempo"