quarta-feira, 27 de março de 2019

AS ESTAÇÕES DA VIDA

As estações

A alegria é a nossa companheira, pois tem que ser, sem ela, jamais teríamos vivido a felicidade, durante toda a vida, desde a hora em que nascemos... Passando pela infância, juventude e chegando, na fase adulta, ultrapassamos a porta da rua, sem medo de enfrentar a vida com seus percalços... Nascemos, na primavera da vida. Por essa estação, só pensávamos em brincar. Para nós, não havia o futuro, depositávamos esperança, no verão, que seria a juventude... Ah... como gostaríamos que o verão chegasse logo, para podermos curtir essa estação... Adentrando na juventude, ou seja, no verão da vida, depositávamos, ali, a espera de que a fase adulta logo chegasse; o outono da vida, em nós... Pensávamos, como toda jovem pensa, que a fase do outono vai chegar e iríamos nos casar... Somente imaginávamos, adentrando a nave de uma igreja, com aquela marcha nupcial linda tocando... As pétalas de rosas sendo jogadas e os convidados a nos admirar... Esquecemos de pensar é que poderíamos tropeçar no véu de noiva e irmos ao chão...
Não gostaríamos que houvesse aquelas promessas todas, pois, se o amor é autêntico, adoraríamos, se só existisse a festa, tanto na igreja, como no buffet, sem aquele acordo todo, recheado de promessas, que, muitas vezes, não são cumpridas...
Os sacerdotes só esquecem de fazer-nos prometer que, depois que a vida terminar, continuaremos a amar por toda a eternidade... Deveriam incluir isso... Iríamos nos divertir muito mais... Os convidados não ficariam cansados à espera da cerimônia terminar... Riríamos muito e nos tornaríamos, dali, para a frente, casadas e realizadas, para sempre... Seguiríamos pelos caminhos das estações da vida, retirando os espinhos das rosas e enfeitando nossos caminhos, apenas com suas pétalas perfumadas... Não permitindo que os espinhos ferissem os nossos pés, e, portanto, caminharíamos tranquilas... E de tal modo, prosseguiríamos, até que a velhice chegasse, ou seja, o inverno da vida, mas, já maduras e sabendo o que queríamos da vida, aproveitaríamos, muito mais, essa estação gostosa...
É a síntese da mulher, que soube construir, ao longo dos anos, fases nas estações da existência... É a substância, que fica, em nossa essência, depois que passamos por todas as estações da vivência... Amantes e esposas do homem a quem amamos durante toda a nossa vida e até a eternidade...
Não poderíamos ser como a rosa, que tinha inveja das outras flores, pois, quando passava pelos jardins e observava as flores, dançando ao bel-prazer do vento, que ora soprava em brisa leve e, em outras passava com rajadas fortes, fazendo-as rodopiar... A rosa indócil, somente queria pertencer àquele mundo, que ela admirava, mas desconhecia o porquê de haver espinhos em seu caule e não tinha como dançar com as outras flores, quando o vento chegava... Certo dia, a rosa determinou, sem muito raciocínio, extrair todos os seus espinhos. E, mirando-se, no espelho, sem perceber o sangue, que escorria, pensou: – Estou com ar mais aprazível, um verdadeiro porte de rainha, agora poderei dançar... E, assim, aproximou-se das outras flores, toda faceira, com um sorriso. Mas sua surpresa foi grande, quando, todas as outras flores, lhe apontaram os dedos, mostrando-lhe o sangue, que escorria em seu caule. Não era o que ela esperava... Afinal, ela era a rainha das flores, justamente pelo perfume e os espinhos... As flores, virando-se, para ela, perguntaram, em uníssono: Retirar seus ilustres espinhos, por quê?... Eles lhe faziam, além da sua beleza insólita, a tão respeitada rainha de todas nós... Agora, somos flores sem reinado e sem rainha, não temos a quem idolatrar e você está ferida! A coitada da rosa, ferida, agora, sem reinado e sem coroa, por querer ser igual às outras flores, que não tinham espinhos e, sem eles, elas dançavam ao desejo do vento, livres e soltas, como ele gostaria... Nunca seria igual às outras flores, pois tinha espinhos, mas era a rainha, com certeza, de todas elas... Não perdeu a sua altivez, não mais seria rainha, porque o que a diferenciava, das outras, era o mais importante, aos olhos de todas as flores... Os espinhos, que ela havia retirado é que a tornavam diferente... Naquele mesmo dia, a rosa, que sentia muita dor, por causa da retirada dos espinhos, morreu... A noite se findou, um novo dia raiou, com um maravilhoso sol e outra rosa nasceu, bela, cheirosa e com todos os seus espinhos, sendo eles a sua coroa... As flores ganhavam, agora, uma nova e reverenciada rainha... Haviam esquecido a rosa sonhadora...

Não seguindo o exemplo da rosa sem espinhos, foi, assim, a fusão da mulher, que soube seguir o caminhar certo, em cada estação...









quarta-feira, 20 de março de 2019

Saudades Imagináveis

Saudades Imagináveis

Saudades, que habitam em nós, são gravadas a ferro, dentro da nossa essência, ferindo-nos... Muito melhor seria, se as tivéssemos gravadas a ouro, dentro do nosso peito, a tê-las, que explicar, para quem não as vê. Não sentem o que sentimos... As saudades, somente nos pertencem e só nós sabemos como se apresentam, dentro do nosso imo... É como se a nossas mãos estivessem escrevendo, em um papel imaginário, tudo o que o nosso eu sente... São saudades sinceras, temos certeza.. Elas nos assustam, nos dão as mãos e nos levam a viajar por caminhos frios e tristes...
 E lá vamos nós a percorrê-los, sentindo uma apunhalada no peito... As saudades são tão sinceras, que nos espantam, nos magoam e acabamos acostumando-nos com elas. Por não saber abandoná-las, dizemos a nossa verdade, o que estamos sentindo e aprendemos a conviver com elas... Não a aceitamos, mas, convivemos com essa dor, que, a cada dia, tira-nos um pedaço da nossa vida, levando-nos por vales escuros... Todos nós temos uma definição, que nos permite existir, e esse rótulo é a nossa tábua de salvação.... 
Graças a ele, navegamos pelos tumultos da saudade, do dia a dia... Conseguiremos chegar ao estuário, onde nos encontraremos com as marés calmas, sem enlouquecermos... Pois não as aceitávamos... Nos longos invernos da solidão do nosso “Eu”, muitas vezes, perguntamo-nos, a nós mesmos, com a alma dorida: – Como seriam os dias à nossa volta, se fossem vistos pelos olhos alheios?... 
A saudade é como um vento, que surge sem que estejamos esperando, levando a alegria e trazendo a nostalgia... Quando a noite começa a devorar a tarde, as pessoas, de repente, descobrem que estão com saudade da luz. Então, as ruas, as casas, colinas e vales se transformam no sinal dessa falta de luz... Luzes, cada vez mais espalhafatosas, transformando a comedida atmosfera da noite, no alegre cenário de uma festa, que é iluminada pela luz das estrelas... 
Tudo é silêncio, quando a saudade habita em nós. A nossa natureza fica mergulhada numa espécie de estupor. Até o barulho, mais próximo, parece vir de bem longe. Mais que os ruídos, são as nossas dores... Não queremos lembrar de muitas delas, mas, elas chegam, sem a gente querer... Elas saem num turbilhão de seus esconderijos, e se alojam em nosso eu, pois, são frias, como o inverno na montanha... No entanto, machucam-nos, embora, às vezes, o façam sem que desejemos... Que nos mostrem a verdade, que traz, com ela, ferindo o nosso ser... 
 Os pesares, que sentimos, muitas vezes, nos assustam, não que estejamos sempre preparados para recebê-los. Não! Não estamos. Apenas, aprendemos a conviver...
 Ninguém tem coragem de se lembrar da saudade, é melhor deixá-la esquecida, em um canto qualquer de nós mesmos... Pois não gostamos de lembrar de certos acontecimentos, certas nostalgias... 
Quando nos lembramos, o nosso coração fica dorido, com uma dor profunda... Talvez, a lei da saudade não seja tão diferente das leis da metereologia... 
Assim, como o ar tende sempre a passar de um área de alta pressão, para uma de baixa, da mesma forma, cria-se, em nós, de repente, esse vazio... E é um vazio, que atrai a melancolia...
 Não gostamos de lembrar da saudade. Os longos meses de solidão, até aprendermos a nos acostumar com ela... Preencherem o nosso eu... 
Então, preferimos fechar os olhos e viver em um mundo irretocável, sem lembrar dela, sem pensar... Acontece, porém, que as saudades não se escondem, gostam da solidão... Procuram companheiras, para não ter que ser hipócritas, enfrentando pessoas, que não querem aprender a conviver com elas... A sinceridade das saudades é absoluta. Igualmente, elas querem mostrar a verdade, para todos...
Por isso, às vezes, as pessoas se cansam de sentí- -las, querem comandar seus quereres, deturpando-as, não querendo sentir a sinceridade, que há nelas. Preferem esquecê-las, a pressentí-las dentro de si... É certo que cada um sente saudades diferentemente. Ou as camufla. Ou, simplesmente, as deixam lá, quietas. Procuram não as sentir... E, a cada dia, afastam-se um pouco mais desse mundo frio, que é o das saudades... Sendo que elas são sinceras e nos mostram tudo, com muita clareza...
 Muitos preferem o ópio do silêncio, que corre em suas veias, à sinceridade das saudades, que nos remetem a lugares, por onde, antes, caminhávamos com as alegrias, mas, agora, temos a franqueza das saudades, a nos acompanhar...  

Marilina Baccarat de Almeida Leão, no livro "O Eu de nós" página 29

sábado, 16 de março de 2019



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Poesia


Poesia

Poesia é a arte
de transformar
o belo em palavras
sentimentos em letras
unindo alfabetos
em torno
de uma imagem
que o poeta imagina
e transfere ao papel

O mundo precisa deles
dos poetas
dos loucos
dos que veem poesia
no que não há


O mundo precisa deles
para trazer
a beleza
das coisas simples
travestidas de filós e rendas
tornando coisas banais
em nuvens de organdi


O olhar do poeta
nos faz olhar
para dentro
nos faz ver
o que não víamos
transmuta
transcende
transforma
transgrida

Sem poesia
O que seria da vida?
Sem o apurar
das palavras
o que seria da língua?


Um poeta não precisa
fazer mais nada
Só poetar
Essa é sua
missão
sina
mensagem
tarefa

Mudar o mundo
através da beleza
que só eles veem
e são capazes de mostrar
ao resto dos mortais...

Sentir
isso é o que a poesia nos ensina
e muito poucos
aprendem...


Marilina Baccarat de Almeida Leão (escritora brasileira)

quarta-feira, 13 de março de 2019

O Rio e Sua música

O rio e sua música


Certa vez, olhamos para o rio, no auge do seu esplendor, chegamos à conclusão de que suas águas,ao declinarem e batendo em suas pedras, são bastante parecidas com a regência de um grande coral, regido pelo horizonte... Quando as águas, ao descerem em direção ao mar, cantam suas canções... Os nossos corações se aquietam, para poderem ouvir aquela cantiga...
Há uma infinidade de vozes, ali, dentro daqueles talentos... Ali, parece existirem clamores de sopranos,contraltos, baixos e tenores e, de cada um deles,parece haver o maior ajustamento possível, que permitirá que todos eles sigam o ritmo, criando o mistério
da sinfonia da música...
Como um rio calmo, vai correndo com sua melodia...Ela é perfeita e cresce conforme ele desce,regendo o coral,dominando profundamente o nosso ser... Com os raios derramados pelo sol, que refletem,em suas águas. Ali, acharemos a calma e a paz...
Ao lado da sonata, que é executada, para nossa admiração, observamos que, sempre, há flores em suas margens... O útil e o belo precisam conviver, iluminando-se, mutuamente, pois, do contrário, não haveria a harmonia, de que muito a música precisa...
Mas, quem invade o espaço do rio somos nós, que não paramos para ouvir a sua melodia, que é bem gostosa de se ouvir, alegrando o nosso ser...
Pessoas se aproximam e logo dizem para as crianças: – Não se abeire, pois pode ser perigoso...
E nós a escutar, pensamos com os nossos botões: – Perigoso por quê? As crianças aprenderiam a ouvir sua música e, com isso, aprenderiam a cantar...Mas quem abonaria o aproximar das crianças perto das beiras, que têm suas margens floridas...Ninguém permitiria que elas se aproximassem, pois não haveria segurança, conforme eles diziam... Então, elucubramos: – garantia do quê? Vista como uma maravilha da natureza, a música, que esse coral executa, não haveria o porquê, de não haver uma abonação...
Muitas vezes, quando estamos em suas margens, ouvindo sua anção, tentamos imaginar, naquelas águas, que correm para o mar, rostos de pessoas, que, a nós, são caras... Às vezes, parece-nos que ainda estamos vendo seus gestos, quando olhamos para o rio... As nossas mãos são como as delas, calejadas por remarem todos os dias, contra a correnteza das águas da vida... Mãos machucadas de tanto remar contra os infortúnios da vida, elas são vigorosas, mas, ao mesmo tempo, capazes de transformar, de uma hora para outra, sua força em delicadeza...
Do mesmo modo que ele se encontra com o oceano, cantando a sua canção, o nosso mundo está cheio de fatos misteriosos, abitolado e restrito, apenas àquilo que, a nós, é visível... 
Nunca ficamos irritados com suas histórias, pois, para nós, suas temulências trazem uma espécie de pozinho mágico, que alegra nosso navegar pelas águas calmas...
No fundo, estávamos convencidos de que aquele ribeirão fosse algo, extremamente, feminino, onde o feminismo significa uma atitude própria, de quem não precisa se empenhar, seriamente, nas coisas concretas da vida...
Não contestamos e, muito menos, procuramos explicações acerca daquilo, que defendemos, pois, evidentemente, não temos a capacidade de fazê-lo, pois as torrentes descem, com uma tal velocidade, que não seria possível a uma fêmea possuir a força daquelas águas...
Acostumamos a ver, todos os dias, as carraspanas descerem violentamente, levando os barcos, com uma violência, que chegamos a pensar que a vida poderia ser assim, tal qual a sua correnteza, mas, que levassem as nossas dores...
Que avaliassem as nossas relações, cantando suas melodias, que, hora parecem ser uma sonata e, em outra, um adágio a nos embalar em suas margens floridas...
Sentiríamos o seu perfume e, certamente, encontraríamos o andamento e aprenderíamos a navegar juntamente com suas moafas... Nesses assuntos, a única coisa, que poderia nos unir, às suas correntezas, além de sua música, seriam as flores em suas margens...
Dispomos de mais tempo que os arroios, pois eles descem velozes e não conseguimos acompanhá-los, pois eles dispõem de mais tempo do que nós...Há dias em que, ouvindo a melodia, que é executada por ele, com nossos barcos aproximados, colocamo-los no rio e, juntamente, com suas correntes, vamos navegando e, juntos, seguimos a sua regência, cantando-a juntos com ele...
E, de fato, quando retornamos, desse passeio, parecemos pescadores de contentamentos, garimpeiros em busca da jovialidade, que suas melas parecem nos oferecer por toda a nossa vida, afora...
Porém, enquanto o rio corre na perfeita paz, marcando o tempo dos nossos pensamentos, com seus cantares, nossas palavras parecem suspensas, no silêncio...Já não eram meras palavras, mas pedras preciosas, que dançavam, à nossa volta...
Entorno de nós, corria o rio do mistério... E era, justamente, esse mistério, que nos dava a certeza de que pequenas janelas são abertas, com suas melodias...

Marilina Baccarat de Almeida Leão no livro 
"Corre Como Um Rio" página27

sábado, 9 de março de 2019

Aparência e Essência

Aparência e Essência

Aparência e Essência

   Aparência e essência


Não existe obstáculo, nesta vida, que o ser humano não seja capaz de superar... 
Muitas vezes, as pessoas costumam se esconder atrás de suas limitações e sentimentos, impedindo que os outros possam, realmente,entender o que se passa com elas...
Por isso, as aparências nos enganam... 
Que bom seria se cada um tivesse a coragem de ser o que, realmente, é e de dizer o que, realmente, pensa, colocar para fora o que,
realmente, sente. O mundo, com certeza, deixaria de ser, apenas, aparência e mostraria a essência...
Para sermos essência, precisamos mostrar quem somos, mas, na maioria das vezes, não agradamos...Então temos que viver da aparência, mesmo contra nossa vontade, infelizmente...
Somos o verdadeiro sentido de tudo aquilo que queremos ser... Ao acordarmos, pela manhã, escovamos os dentes, já pensando na roupa que iremos vestir. No banho, não sentimos o toque da água em contato com nosso corpo, porque estamos pensando no trabalho, que nos está esperando...
Tomamos nosso café da manhã, sem perceber seu gosto, pensando nas contas, que iremos pagar...
Mal sentimos o calor do abraço, que nos é dado pela manhã, porque estamos  imaginando todos os telefonemas,que precisamos fazer...
Assim o dia segue, até que chega a noite. Deitamos em nossa cama e sentimos um enorme vazio,uma estranha sensação de não estarmos vivendo a vida e, sim, a vendo passar...
É justamente isso que está acontecendo, a vida está passando e estamos nos esquecendo da essência, pensando, apenas, na aparência...
É chegada a hora de tomarmos alguma atitude e revertermos tudo isso. Precisamos começar a prestar atenção em tudo aquilo que fazemos, mecanicamente,todos os dias...
Ao entrarmos no banho, pela manhã, temos
que sentir o toque da água no nosso corpo. Tomar o café percebendo seu sabor... 
Do abraço, que recebemos pela manha, temos que sentir o calor que dele nos envolve. Trazer toda a nossa atenção para o momento presente...
Quando estivermos no transito e depararmos
com um congestionamento, não devemos nos estressar...
Quando estivermos caminhando, temos que sentir o sol na nossa pele, observar os nossos passos, o caminho, as outras pessoas...
Com o tempo, vamo-nos acostumando e percebendo mais a essência da vida que é o viver...
Vamo-nos sentindo mais presentes e o nosso
eu interior terá uma sensação de que estamos vivos de verdade...
Assim, aprenderemos a sentir a essência da vida e não nos preocuparemos tanto com a aparência...
 Marilina Baccarat de Almeida Leão - no livro 
 "Nas Curvas do Tempo" página 65

domingo, 3 de março de 2019

O Maar Dentro dos Sonhos



                                         MAR DENTRO DOS SONHOS
                                                                                                                Sei bem quem fico,                                                                                                                                    Por certo oposta,
                                                                                                               Na qual me  perco,
Onde se nota ,
Neste riacho,
Que esta sou eu...
Talvez , quem sabe...
  Marilina Baccarat
                                       
          Quando o vento fica lufando por vários dias, é sinal de que o rio vai mudar o seu curso...
          Ele vai desembocar no mar, por outro trajeto... Contudo ele tem horror ao vazio, então, procura contornar as pedras que pelo caminho estão, e, ao passar consegue seguir o mesmo percurso que sempre fez, até que suas águas cheguem ao mar e se tornem salgadas... O que deveria brotar naquele momento, deveria ser eu mesma...Estar ali naquela hora e poder assistir o entrosamento do rio com o mar...
Mirando aquele rio, o meu céu estava vazio, eu não era uma pedra e, portanto o sol podia me esquentar...Mas, o que resultava desse aquecimento do sol, parecia-me ser um circuito elétrico, as minhas veias, os meus nervos eram a fiação através da qual a eletricidade corria veloz, soltando faíscas...        
Nada parecia me interessar...Mas era apenas um sonho, para que eu pudesse recordar o passado... Oh...lugar lindo para que eu pudesse recordar, onde ele me mostrava, deslumbrantemente, etapas de minha vida... Passagens maravilhosas, que um dia, eu tive a doce alegria de palmilhar... Vontade de correr atrás, insistir...Pedir uma explicação...Mas pedir a quem, ao sonho? Não é sempre que temos a oportunidade de que os devaneios sejam repassáveis, ainda que, dentro deles, seja como se o passado estivesse em construção e o futuro prometendo ser lindo, tal qual a onda do mar,que ele  traz até a praia e nos encanta com suas espumas bem brancas, a nos deslumbrar...
Talvez coisas  que não servem para nada sejam as mais importantes... Até as sonhadas expressava nosso temperamento, vital, cheio de alento, incapaz de enxergar as sombras.
Seria, elas também, divididas, esfaceladas, quebradas em mil pedaços até ser forçada, algum dia, a recolher os fragmentos e a tentar recompor as sobras... Pois, pessoas só ficariam inteiras, quando aprendessem a vencer as sombras...
         Em certas épocas da nossa vida, dentro de nossas noites, passeamos pelas mais lindas praias, que, antes não conhecíamos, somente os nossos sonhares nos mostrara...
A cor do mar, em tom sobre tom, vai do verde esmeralda ao verde água clarinho, e a temperatura da água, como imaginamos, é morna e o vento está sempre soprando a nosso favor, nos levando a passeios de barco até os lugares mais lindos do nosso passado, que em nossa memória ficou...
Nesse mar, quando a maré desce, é a hora em que podemos mergulhar, para que possamos avistar, lá no fundo, épocas, que já passaram  e enxergaremos peixes de todas as cores e desenhos..
A água desse mar é tão transparente, que dá para ver, claramente, todos os mergulhos, que já demos até aqui no presente...
        Mas quando o mar se tornou encapelado, eu sabia bem quem eu era, ilógica, no qual me perdia e ali, me encontrava comigo mesma, nesse violento mar e tinha a certeza, que aquela era eu...Quem sabe? E tem muito mais beleza, na imensidão desse mar e, o que é mais belo, é o sol o tempo todo refletindo em suas águas.
Poderei ter a certeza, sem dúvida alguma, que, dentro desse pélago, que em meus  sonhos aparecem, existe o paraizo, que é ali, dentro dos devaneios...
Então, naquela noite, dentro de meus sonhos, sentindo o cheiro do mar que trazia suas ondas com as espumas brancas e perfumadas, ví o mar, calmo, tranquilo, sereno, como sempre foi em meu sono...  Ouvindo o barulho das ondas a bater nas rochas, como a pureza de um cristal, contrastando com o timbre da minha voz, achei que havia encontrado o meu porto seguro...
       Uma base, que com alicerces seguros, dariam novo alento à minha vida, dentro desse riacho, que é um imenso oceano, onde me acho...
       O passado foi bom e é afável  recordá-lo, principalmente, quando estaou dentro dos sonhos, apreciando a calmaria do imenso mar, isso é maravilhoso, pois são poucos que têm o privilégio de sonhar com o mar e tudo que há nele...
Observava um garoto a jogar uma bola para o seu cão, uma criança seguia de mãos dadas com seus pais, que a erguiam de vez em quando para fazê-la voar, e suas risadas confundia-se com o rumorejar das ondas, que o mar generosamente as jogava de encontro as pedras... A noite chovera abundantemente, o ar estava frio e nuvens carregadas e escuras, corriam ao longe do horizonte... Na praia do meu sonho não havia ninguém, naquela noite...


 Enquanto caminhava nas areias brancas do mar, segui em silêncio e consegui reviver o passado, onde no mar me achei, dentro dos meus sonhos... 

  • Marilina Baccarat de Almeida Leão no livro "Corre como um Rio página 177