quarta-feira, 29 de abril de 2020

Patria Amada

VAMOS FAZER O BRASIL

     Tenho pensado no Brasil como Povo, como Nação, como Pátria minha. Como um somatório de muitos, de cada um de nós.
         Esta pátria, da qual nos orgulhamos principalmente para quem já morou fora deste país enorme, quase um continente, que vemos ser vilipendiado, por nós mesmos, pelos outros e nos calamos aquiescentes, coniventes.
       Falamos mal do vizinho quando sabemos que ele deu propina ao guarda para que não o multasse, mas faz o mesmo quando o caso é com ele... Falam mal da mãe de quem para o carro com as duas rodas, em cima da calçada, mas, quando não encontra vaga por perto, faz pior:- joga o carro com as quatro rodas por cima da mesma calçada.
      É a tal estória:- “todo mundo faz, também vou fazer”... Não sei de onde vem isto. Se foi o tipo de colonização a que fomos sujeitos que gerou esse descompromisso, esse pouco caso com o outro, com a cidade, com o estado e consequentemente com o país. Onde erramos, como nação? Ao escolher os nossos governantes? Ao sermos corruptos e corruptores também?...Corrupção há em todo lugar, mas nos outros lugares há a punição. Aqui não, a certeza da impunidade é que faz a criminalidade crescer a cada dia. E não me venham dizer que é a miséria ou a pobreza a causadora disto tudo. Não, isso é cultural e ancestral, carregamos em nossos genes o desejo de se locupletar mais, sempre que possível, pouco se importando com o resto do país. Pensamos que há um Brasil, para cada um de nós. Um Brasil moldável, adaptável aos nossos próprios interesses, um interesse, em detrimento do TODO!
       Temos que pensar em começarmos a construir a ideia de que somos todos nós, juntos, quem formamos a Nação.
      Não só quem legisla, não só quem executa as leis, não só quem as faz cumprir. Mas o povo, tendo em quem se espelhar, vendo exemplos de amor à pátria, para nossos filhos e netos. Comecemos a construir, dentro de nós, a autoestima necessária para que se AME uma Pátria Amada. Brasil...

sábado, 25 de abril de 2020

Ostentada Viração

Ostentada viração                        certos ventos têm a calma,            
Nos deixam maravilhados 
Outros reservam na alma,
Poder de serem expostos .
     Marilina Baccarat 
                               


Há ventosidades, que são exibidas, quando resolvem correr, virando as esquinas com a máxima velocidade, fazem tanto estardalhaço que parecem querer levar o que encontram pela frente, a nos envolver junto a elas...
Certos ventos chegam com calma, não fazem muito barulho, e nos deixam maravilhados, ao senti-los que estão a acariciar nossas faces... Mas, há sopros, que se acaçapam e se misturam às folhagens do outono, como se estivessem fazendo as folhas dançarem; batem no solo e jogam poeira em nossos olhos, e, ao sermos açoitados por eles, não conseguimos compreender o porquê da agressão...
Existem virações antigas, que, ao longo da nossa vida, dobramos as arestas a favor delas. Elas sopram, com tanta força, que parecem dar o tom, para que um coral entre e entoe lindas canções, com várias vozes, sempre arrumando uma maneira de ventar, sempre, a nosso favor... 
Há ventos recém-chegados, que parecem deixar suas bagagens no chão, e correm para nos abraçar, pois já nos conhecem há muitos anos, chegam com uma brisa bem leve e logo se transformam em uma ventania, batendo direto em nossa alma...
Esses são ventares, que são velhos conhecidos nossos, sabemos, até, o tempo em que eles aparecem, como gostam de caminhar, e a quanto costumam correr. São sopros quase sem surpresa, sopram contra nós, com a mesma mania de nos incomodar... 
Constituem em uma ventania, da qual nós reconhecemos o cheiro, quando se aproxima, o barulho dos seus passos aproximar-se, a atmosfera, que lhe antecipa a chegada... Uma rajada, que bate de frente, olhando em nossos olhos, e perguntamos sem eufemismo: – Você, novamente? – Outra vez? Pois é, ele de novo, é um favônio que, às vezes, parece que não vai passar nunca... Há dias em que gostamos, outros não... O que não sabemos a respeito daquela ventosidade, era o porquê de soprar tanto, abrindo, assim, uma dor que ela mostrava existir..., que amargura era aquela que se estendia, em um vaivém cada vez maior, para tantos pontos de nós... 
Mas, em uma certa manhã bem fresquinha, com o céu azul, a enfeitar o dia, de repente, o sol se esconde por detrás das nuvens escuras, que pareciam estar cheias de chuva, parecendo uma dança simultânea, entre eles e tudo que se passava em nosso íntimo...
Lá estava ele, de novo, o velho vento conhecido nosso... Mas, agora, foi surpreendente, pois não ouvimos os seus passos, não sentimos o seu cheiro, apenas sentimos, em nossas faces, a forte brisa, que parecia trazer uma mensagem:
 – Olhe para os seus sentimentos, eles os acompanharam durante toda a vida... Era uma lufada, onde não cabiam palavras, apenas um entendimento, que só acontece, quando é possível sentir a harmonia daquele momento... Tivemos a percepção de que estávamos em um ambiente completamente escuro, onde as cortinas se abriam e uma grande orquestra iniciava uma sonata... Para nós, parecíamos estar dentro de um adágio, numa busca em que nos sentíamos desesperançados, onde os maiores vendavais não seriam capazes de nos ajudar a sair daquele lugar... 
Até que a refega se acalmou, chegou o momento em que conseguimos alcançar a claridade, naquela escuridão e pudemos entender o que a ventania queria nos dizer... Entendemos o porquê daquele zéfiro exibido, que soprava tão forte... Ainda, ali, parados, sentindo a luz do sol, que despontava no horizonte, desejávamos desistir da companhia do estadeado vento, ao qual nos apegávamos, pois, já conhecíamos a sua fragilidade... Na expectativa, acompanhada da frustração, em que ele nos envolvia, tentamos encher aquele espaço vazio, com tantas emoções incapazes de preenchê-lo, manter aberta as janelas, até que ele pudesse voltar e com calma, em uma brisa suave, acariciar as nossas faces e curar o pavor, que sentíamos desses furacões...
Não, aquele ventar, que aguardávamos, chegando e arrancando as grades das janelas, entrando, trazendo, com ele, todos os anseios, não viria mais... A possibilidade desse exibido chegar, viria somente com a nossa aceitação. Do nosso desapego e do nosso autopreenchimento, de nós mesmos... Naquele momento, aceitamos que o exibido voltasse, escolhemos não desistir. Deixamos as janelas abertas, para que ele entrasse. Ainda não sabíamos, exatamente, como iriamos fazer, contudo, estávamos confiantes de que, de alguma maneira, ele voltaria...
A noite já havia jogado o seu manto estrelado, sem o vento e sem a lua, mas foi a primeira vez que o vento levou nossa ilusão de termos a felicidade... Mas, sabíamos, demoraria um pouco para que ele viesse novamente, sanar a falta que sentíamos desse ostentado vento, como, sempre, acontecia... 
Naquele tempo, sentimos que o sol voltaria a aparecer junto com a aragem, embora fosse provável que ainda demoraria atrás de algumas nuvens... 
Entre tantas ventanias ostentadas, experimentamos um afetuoso apreço, pela capacidade que a vida tem de se renovar, mesmo quando é passado algum tempo, sem que tenhamos o estadeado vento, a arrancar as grades das janelas...

Texto de Marilina Baccarat de Almeida Leão, no livro "Vertices do Tempo" página 26


domingo, 19 de abril de 2020

Minuto presente

O minuto que você está vivendo agora é o minuto mais importante de sua vida, onde quer que você esteja.
Preste atenção ao que está fazendo.
O ontem já lhe fugiu das mãos.
O amanhã ainda não chegou.
Viva o momento presente, porque dele depende todo o seu futuro.
Procure aproveitar ao máximo o minuto do minuto em que está vivendo, tirando todas as vantagens que puder, para seu aperfeiçoamento.
Marilina Baccarat de Almeida Leão  ( escritora brasileira)
No livro "Vértices do Tempo "

sábado, 4 de abril de 2020

Lembranças com rudeza

Lembranças têm uma certa rudeza, que assusta, própria das viagens, que a mente faz... Parece até que, dentro delas, corre veneno! Espantam alguns, magoam a outros e acabam, muitas vezes, trazendo tristezas e afastando alegrias. Lembranças nos cansam, às vezes, pois, vêm carregadas de péssimas recordações, que não deveriam nunca existir. É, lembranças saem num turbilhão, dizem a verdade, que não queremos lembrar e, no entanto, não nos machucam, só nos fazem recordar. Embora, às vezes, elas surjam sem que desejemos que elas aflorem. A sinceridade das lembranças assusta, não estamos esperando e, sem ter hora para aparecer, lá vem ela, achando que está sempre certa... Mas, muitas vezes, não seria necessário aparecer, pois, não queremos, naquele momento, relembrar... Certas lembranças não gostam da gente, mas, pessoas gostam de ouvir, de saber de nossas reminiscências... Mas, algumas aparecem em hora errada, por isso que digo que elas não nos querem bem. Quando as lembranças não são boas, preferimos tapar os olhos, fechar as cortinas e viver no nosso mundinho irretocável. Mas, o que ganhamos com isso? Claro que, às vezes, elas surgem como um veneno, envenenando nossa mente e nos deixando  tristes...
Mas, quem não tem lembranças, sejam elas tristes ou alegres, é sinal de que não teve passado. As nossas lembranças são absolutas. Pode ter sido péssima para mim e ser ótima para outros. Por isso, às vezes, as lembranças nos cansam e preferimos não as ter, preferimos a solidão como companheira, sem lembranças, sem recordações...
Assim, não temos que confrontar ninguém com nossas lembranças, pois, cada um tem as suas...
 Cada um as relembra como quer. Cada um faz o que quer com as lembranças, a relembra ou a camufla, ou, simplesmente, as deixa lá, quietas, sem as incomodar. Existem lembranças, que nos fazem afastar um pouco do mundo real, lembramos de sonhos realizados, objetivos alcançados e voamos com os nossos pensamentos, pois, eles fazem com que a gente voe, e bem alto, até às alturas alcandoradas, lembrando-nos de coisas belas, que nos aconteceram. Outras lembranças nos trazem solidão, o mundo se torna cinza, quando elas surgem, que pena! Lembranças poderiam ser, somente, boas, jamais as lembranças ruins deveriam surgir em nossos pensamentos...
Muitas vezes, é melhor preferir o silêncio, que nos envenena e a solidão, que nos completa e nos mata aos poucos, a ter que conviver com lembranças, que não foram boas...