sábado, 22 de setembro de 2018

Nunca desistirei do amor

Nunca desistirei do amor

Esse é o meu tempo de amar, de ficar mais doce,
apurar sabores, que vêm do fundo da alma, com sabor de amor verdadeiro...
Eis que entro em plena safra de afetos, sumarenta,
perfumada de mim mesma, a perfumar a noite...
Nesta noite chuvosa, gostaria de ser mimoseada
com afetos... Não deixar de fazer pequenos agrados a mim mesma... Presentear-me com amores possíveis...
Enquanto a chuva cai, lá fora, e o verão começa
a dar os ares de sua graça, gostaria de dormir e sonhar com o amor, nem que fosse eu mesma a inventar esse sonho...
Já que me faz tão bem amar, que eu possa sentir
esse amor, caminhar com ele e poder concretizar essa vontade de amar... Gostaria de me dar esse prazer...
Olhando a chuva, que cai, penso que a vida é
feita de amor, pois ele é fundamental, para que eu
viva...
Quantas vezes, por conta de um desprezo, desistimos de nossos amores e cometemos um engano,quando escolhemos recuar...
A decisão pode até parecer acertada, mas, logo
depois, vem o arrependimento e a certeza de que
jogamos fora a oportunidade de amar, obter a felicidade, naquilo que nos é importante. Afinal, desistir de amar é perder a luta sem, ao menos, tê-la enfrentado...
Muitas vezes, os problemas são mais ameaçadores do que reais. Portanto, não devemos entregar os pontos toda vez que algo não vai bem, correndo o risco de ficarmos parados e não amarmos...
Não podemos deixar as conjunturas nos fazer desistir de nossos amores...Temos que encontrar a solução para os problemas e continuar correndo atrás dos nossos apegos e não permitir que a vida passe em brancas nuvens...
Devemos enxergar a grandiosidade, que é a vida. Certamente, seremos mais felizes e entenderemos que amar á valiosíssimo e, portanto, vivê-lo é o que podemos fazer para agradecer o fato de podermos amar...
Quanto mais a gente busca o lado bom do amor, mais aprendemos e nos tornamos mais felizes. Pois, muitas possibilidades boas se abrem...Nunca desistirei do amor...
Marilina Baccarat de Almeida Leão no livro       "Sempre Amor"

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

andanças nas palavras






Andando Nas Palavras

Pelas andanças em livros, olhando, cada palavra, pude
perceber que palavras são passarinhos, que se soltam da gaiola
da minha alma e ruflam suas asas pelo pensamento afora.
Escuto todos os dias as palavras passarinhadas do bem-
-te-vi. A passarinha o chama passaritando, apenas, vi, vi... E a
sua angústia aumenta à medida que o macho não chega com
o alimento para os filhotes... Mas, quando ele chega, a festa é
geral, de longe ele vem passarinhando: Bem-te-vi, bem alto e
a alegria é geral, uma verdadeira festa na árvore, onde fizeram
o ninho.
Pois é, palavras são passarinhos, repare para você ver.
Eu quando sinto o peito a querer arrebentar, solto umas tantas
palavras, e, voejando as liberto, descanso um pouco do ruflar
inquieto de suas asas ansiosas, tal qual o bem-te-vi, quando
vem chegando ao encontro da sua família.
Assim, as palavras me libertam por consequência do
tanto que me sufocam. E, assim, posso imaginar o sufoco da
passarinha, que espera pelo seu lindo passarinho amarelinho,
que faz uma algazarra, quando chega, passarelando sem parar.
Só por alguns segundos, tudo se aquieta... Dali a pouco,
nascem outras palavras, dos ovos, que ficaram engaiolados.
Prenderam-lhe o peito, querendo sair e ruflaram suas asas, pelo
céu afora, passarinhando como só eles sabem passarinhar...
É por isso que digo que palavras são passarinhos, alma
engaiolada, que tem sede e fome de tudo
Nas andanças da vida, podemos observar o bem-te-vi,
que, com seu canto, solta palavras, vive passarinhando, não
se cansa de passarear... Será que se tivermos a oportunidade
de conversar, com ele, vai nos entender?... Creio que sim,
pois, como ele vive passarinhando, nós humanos vivemos
palavreando.
Palavras são passarinhos, que vivem presos nas gaiolas.
As palavras vivem presas no livro, esperando que as leiamos,
para que possam sair da gaiola, que é o livro e voar para nossas
mentes.
Passarinhos, palavras, palavrarinhos, almas engaioladas,
que têm sede e fome sempre... Nós, fome dos livros, queremos
soltar as palavras e prendê-las em nosso eu...
Os passarinhos, fome de se soltar das gaiolas,
passarinhar, ruflar as suas asas e cantar pelo 
mundo afora.
Marilina Baccarat de Almeida Leão no livro "Andanças pela Vida" página 19




segunda-feira, 3 de setembro de 2018

O Fluir da Água


O FLUIR DA ÁGUA
           

  Gosto de comparar a minha  vida ao manar da água... Agora sou um riacho de montanha, corro impetuosamente saltando de pedra em pedra, formando corredeiras, o barulho do meu corpo, quando pulo pelas rochas, preenche o ar desde os cumes até os acodes... Algum dia, no entanto, me tornarei  rios de planície, calmos, repletos, preguiçosos, e já não farei mais barulho, a não ser o  farfalhar produzido pelo vento, ao acariciar as folhas dos salgueiros, que ficam em minhas margens...
Isso seria muito desagradável, pois um ribeiro  de planície, calmo e preguiçoso, não seria para mim... Gostaria mesmo de ser uma torrente que desce pela montanha e que eu pudesse pular de pedra em pedra, a contemplar a fauna e o seu verdor...
Esse regato assemelha-me a ser modesta demais, muito pequena, e, além disso, eu abomino a ideia de acabar no raso...
Não almejo ser um afluente, quero ser um ribeirão que desemboca diretamente no infinito  oceano...
Minha paixão é pelo rio... Aspiro passar horas observando a extraordinária fauna, que posso admirar em seu caminho. Botos-cor-de-rosas que erguem-se ao longo do seu curso...
Deixe-me alegremente ser uma  torrente que desemboca no grande oceano, pois não são todos os riachos  que seguem para o mar...Alguns ribeirões têm o objetivo de abastecer lagos, lençóis freáticos e, por isso, não chegam até o mar, mas esse rio eu não gostaria de ser...
Ainda que, nesses regatos que não chegam até o mar, a flora é maravilhosa, bandos de aves de  vários tipos, alçam voos ali...Mesmo assim, não gostaria de sê-los.. Há torrentes que somem mergulham numa voragem, para só ressurgirem  quarenta quilômetros depois...Eu jamais gostaria de ser um rio assim, violento,  sumir e aparecer muito tempo depois...
Não gosto das coisas que somem... Tenho medo de desaparecer, pois sendo um afluxo  calmo, que caminha para o mar, esse sim, eu almejaria ser, sempre... Gostaria de ser um flúmen  que, com sua correnteza tranquila, eu pudesse seguir apreciando suas margens, suas floras e os peixes a me cumprimentar... Todos os rios são belos, desde o começo do mundo, pois estamos cansados de saber... Nunca deixarei que se tornem  adversos...

E se algum dia, o rio se tornar hediondo...Então fugirei para bem longe, não serei rio, e sim fumaça...Um belo dia o oceano vai acordar e, no meu lugar, encontrará um leito vazio...

Marilina Baccarat no livro "Corre como um Rio" página 33
























          SÓ ENTÃO EU COMECEI

   
      Me perdi exatamente no momento em que comecei a navegar por este rio abaixo... Só sei  que tudo começou  quando o rio sorriu para mim, eu já conhecia o seu sorrir, mas havia esquecido como era... Comecei a navegar nessas águas estéreis que, com os braços do rio feitos de águas tranquilas, fez calar a minha alma... E foi então que comecei a ouvir o canto dele, quando contornava os obstáculos... Um canto cheio de candura que o flúmen nos presenteia, quando vai de encontro ao mar... Principiei a singrar, mas nenhuma pessoa inicia a navegar antes do instante em que as águas estejam calmas... Só então comecei  a entender o que é este rio que habita em mim... Não importa com que águas eles venham... Ele simplesmente está lá... Não consigo saber exatamente, em que momento comecei  a navegar por suas águas abrandas.Somente Abanquei a recordar de suas margens e o céu que estava bem azul, sem nuvens e sem as brumas, a me impedir a visão... Deslizei perto de suas margens, a sair de meus caminhos  inabitados...E ao olhar, ainda que com timidez, para todas as paisagens, compreendi que havia um motivo, para que o ribeirão estivesse ali, a minha espera... Ninguém  poderia me ensinar a compreender este rio, que  com o passar do tempo soube me ensinar a entendê-lo, pois só é possível  compreender o rio, quando olhamos para ele com suas águas fleumas... Comecei a entender o respeito e a reverência que a experiência nos dá, quando em suas águas serenas sabemos navegar... A dar-me conta da deleita, que eu deixei que passasse despercebida durante a descida que fiz pelo rio afora singrando suas águas tranquilas... Agora não tenho tanta pressa, quero aproveitar suas paisagens, o céu azul e o sol a brilhar...Eu sou o navegar e o navegante, por esse flúmen afora... Não marquei no relógio, o momento que comecei a atravessar esse riacho...Só sei que comecei a querer brincar com suas águas, com uma percepção mais nítida do que é o sangrar   suas águas, mas também com um olhar mais sereno para o prazer de navegar serenamente, por suas águas serenas, a nos acalentar... Ostentar a ambição de navegar a cada manhã, tendo a certeza para o quê estou caminhando e comprometida com o sulcar, nas águas desse emito... Decididamente, cansei de de perambular por outros rios, sem um acordo seleto. E comecei a navegar por este rio, onde encontrei as águas atenuas... Assim, comecei a compreender de onde vim e a desejar mais a navegar aqui, a cada instante...Descobri então, que o antigo emito, está longe daqui, da minha própria essência... Segura estou em meu barco, neste rio onde as margens são floridas e sem que eu perceba, estou o tempo todo instituindo o que vivo...Que o meu navegar por este rio seja o gesto de uma vida toda, tentando chegar, através dele, até o oceano, que me levará para o outro lado do mundo... Não importa todas as curvas que já fiz descendo este rio, so sei que não me importo com o relógio, pois quero singrar as águas deste rio, até que eu possa chegar ao mar, onde eu poderei ver o nascer da lua...          O que me importa é o momento de poder ver o mar...É longe, o rio é comprido, mas seguirei até poder alcançar o oceano e atravessá-lo...Ao ouvir o canto do rio tenho a certeza, de que logo chegarei...Suas águas estão calmas e antes do anoitecer chegarei e poderei admirar o oceano.. Não sei exatamente, se o mar vai me dar a mão, para que eu possa atravessá-lo e, do outro lado, encontrar lugares distantes, que sempre esteve em minha alma...Se tenho medo?...Sim, o tenho, mas sei que começo a despertar antes do instante em que alguma coisa em mim consegue deixar a mostra o truque que o medo me faz...Então, eu começo devagarinho, para não assustar o medo, a refazer a trilha que me leva a enxergar as estrelas e querer presentear o mundo com seus brilhos do canto que o rio entoa Começo a entender o que é esse sol que nos encanta, quando reflete seus raios nas águas do emito... Não importa com que vestimenta o rio se veste, ele está lá, a me esperar, para que eu lance a minha canoa em suas águas, e ele me leve a navegar.:Que eu tenha o prazer, de poder admirar a paisagem de suas margense e que ele me leve a navegar, até que eu possa alcançar o oceano e abarcar do outro lado... Assim, poderei conhecer todo o mar e, do outro lado encontrar quem eu desejo abraçar...



Não sei em que instante comecei a despertar a minha vontade de navegar por este rio... Comecei a querer brincar, de  sulcar em suas águas, mais nítidas do que é o divertimento, mas, com o olhar mais puro para o que é o prazer de navegar, por suas águas...


       



O Mar dentro dos sonhos

O mar dentro dos sonhos

Sei bem quem fico,
Por certo oposta
No qual me perco
Onde se nota,
Nesse riacho,
Que esta sou eu...
Talvez, quem sabe?
(Marilina Baccarat)

Quando o vento fica lufando, por vários dias,
sobre o rio, é sinal de que suas tiorgas vão mudar o seu curso... Elas vão desembocar no mar, por outro trajeto...
Contudo, ele tem horror ao vazio, então, procura
contornar as pedras, que, pelo caminho, estão,
e, ao passar, consegue seguir o mesmo percurso,
que sempre fez, até que suas águas cheguem ao mar e se tornem salgadas... O que deveria brotar, naquele momento, deveria ser eu mesma... Estar, ali,naquela hora e poder assistir ao entrosamento do rio com o mar...
Mirando aquele oceano, o meu céu estava vazio,
eu não era uma pedra e, portanto, o sol podia me
esquentar... Mas, o que resultava desse aquecimento do sol, parecia-me ser um circuito elétrico. As minhas veias, os meus nervos eram a fiação, através da qual a eletricidade corria veloz, soltando faíscas... Nada parecia interessar-me... Mas, era, apenas, um sonho, para que eu pudesse recordar o passado...
Oh...lugar lindo, para que eu pudesse rememorar, onde ele me mostrava, deslumbrantemente, etapas de minha vida... Passagens maravilhosas, que, um dia, eu tive a doce alegria de palmilhar... Vontade de correr atrás, insistir... Pedir uma explicação... Mas, pedir a quem, ao sonho?
Não é sempre que temos a oportunidade de que os devaneios sejam repassáveis, ainda que, dentro deles, seja como se o passado estivesse em construção e o futuro prometendo ser lindo, tal qual a onda do mar, que ele traz até a praia e nos encanta, com suas espumas bem brancas, a nos deslumbrar...
Talvez, coisas que não servem para nada sejam as mais importantes... Até as sonhadas expressavam nosso temperamento vital, cheio de alento, incapaz de enxergar as sombras... Seriam elas, também, divididas, esfaceladas, quebradas em mil pedaços, até serem forçadas, algum dia, a recolher os fragmentos e a tentar recompor as sobras... Pois, pessoas só ficariam inteiras, quando aprendessem a vencer as sombras...
Em certas épocas da nossa vida, dentro de nossas noites, passeamos pelas mais lindas praias, que, antes, não conhecíamos, somente os nossos sonhares nos mostraram...
A cor do mar, em tom sobre tom, vai do verde esmeralda ao verde água clarinho, e a temperatura da água, como imaginamos, é morna e o vento está, sempre, soprando a nosso favor, levando-nos a passeios, de barco, até os lugares mais lindos do nosso passado, que, em nossa memória, ficou...
Nesse mar, quando a maré desce, é a hora em que podemos mergulhar, para que possamos avistar, lá no fundo, épocas, que já passaram e enxergaremos peixes de todas as cores e desenhos... A água desse pélago é tão transparente, que dá para ver, claramente, todos os mergulhos, que já oferecemos, até aqui, no presente...
Mas, quando a maré se tornou encapelada, eu sabia bem quem eu era, ilógica, no qual me perdia e, ali, me encontrava comigo mesma, nesse violento oceano e tinha a certeza de que aquela era eu... Quem sabe?
E tem muito mais beleza, na imensidão desse golfo e, o que é mais belo é o sol, o tempo todo refletindo em suas águas... Poderei ter a certeza, sem dúvida alguma, de que, dentro dessa enseada, que, em meus sonhos, aparece, existe o paraíso, que é, ali, dentro dos devaneios...
Então, naquela noite, dentro de meus sonhos, sentindo o cheiro do lagamar, que trazia suas ondas, com as espumas brancas e perfumadas, ví, em seu recôncavo, calmo, tranquilo, sereno, como sempre foi, em meu sono...
Ouvindo o barulho das ondas, a bater nas rochas, como a pureza de um cristal, contrastando com
o timbre da minha voz, achei que havia encontrado o meu porto seguro... Uma base, que, com alicerces seguros, daria novo alento à minha vida, dentro desse riacho, que é um imenso oceano, onde me acho...
O passado foi bom e é afável recordá-lo, principalmente, quando estou dentro dos sonhos, apreciando a calmaria do imenso mar. Isso é maravilhoso, pois são poucos que têm o privilégio de sonhar com o aguapé e tudo que há nele...
Observava um garoto a jogar uma bola para o seu cão, uma criança seguia de mãos dadas com seus pais, que a erguiam de vez em quando para fazê-la voar, e suas risadas confundiam-se com o rumorejar das ondas, que o mar, generosamente, as jogava de encontro às pedras...
À noite, chovera, abundantemente, o ar estava frio e nuvens carregadas e escuras corriam ao longe do horizonte... Na praia do meu sonho não havia ninguém, naquela noite...
Enquanto caminhava, nas areias brancas do mar, segui em silêncio e consegui reviver o passado, onde, no mar, me achei, dentro dos meus sonhos...
Marilina Baccarat de Almeida Leão no livro  "Corre Como um Rio" página 21








La vai o barco


          LA  VAI  O  BARCO


Lá vai a vela, a desejar que o vento seja lento, só para não chegar ao cais e poder aproveitar esse mar...Balança, mesmo com o mar calmo, mas não naufraga, pois as águas são serenas,  mesmo o mar sendo perigoso, a vela prefere o oceano, a chegar ao porto que é seguro, para atracar sua embarcação...Como nós, que temos medo de chegar...De tropeço em tropeço vamos indo bem devagar, para não chegar aO porto de partida...

Sonhe sem cair no chão

Sonhe sem cair no chão

Sonhar também tem disso: de vez em quando a
gente cai do conforto de um sonho lindo e se estatela no chão áspero de uma realidade dolorida. Matar, não mata, pois eu nunca soube de nenhum óbito por queda de sonho... Não mata, mas que machuca, machuca.
Dependendo da altura de que caímos, o coração
pode ficar bem ferido.
O brilho dos olhos sumido do mapa. A alegria,
temporariamente, encolhida, como um passarinho
na muda. Dá até para continuar sorrindo, pois, em
geral, a boca não é atingida, mas o lugar onde nascem os sorrisos, mais charmosos, fica encoberto por um fugaz nevoeiro.
Sem falar daquele vento frio esquisito, que corre
por dentro e de que só lembramos existir, quando
a vida puxa o edredom da gente.
Quando parece quilométrica a distância, que
nos separa de algum calor, que possa nos aquecer de novo a alma, ou quando mesmo próximo das fogueiras mais caprichadas, reagimos como se estivéssemos diante da chama de um fósforo.
Parece exagerado, e pode ser mesmo, principalmente quando exagerada é a altura em que estamos do chão, chamada expectativa, essa que é para lá de perigosa. Mas, é preciso viver, correr o risco de sentir, de perder, de ganhar, até de se estatelar e ralar um pouco a vida de vez em quando, para aprimorarmos a medida do tempero, que, em excesso, sabemos o que faz com refeições.
É vivendo que a gente aprende a avançar nessa
arte delicada de sonhar, sem se afastar do próprio
centro, sem perder o equilíbrio, sem esquecer que
mais prioritário do que tornar qualquer sonho real é buscarmos estar em paz. Não precisamos, nem deveríamos nunca deixar de sonhar por medo de novas quedas.
Não precisamos deixar de agir na direção da
conquista dos nossos sonhos, muito pelo contrário.
Não precisamos nos tornar especialistas em medição de altura.
Talvez, possamos minimizar o impacto das
eventuais frustrações, apenas, não perdendo a medida da importância do auto amor, porque, algumas vezes,inflamos expectativas, desnecessariamente, por estarmos esvaziados demais de nós mesmos.
Sonhe sempre, mas cuidado com a altura, porque,
dependendo da distância, o coração pode se magoar...
Marilina Baccarat de Almeida Leão no livro "Em Busca dos Sonhos" página 133

domingo, 2 de setembro de 2018

Viva a nova estação

Viva a nova estação.

As vitrines estão alegres, todas enfeitadas de folhas secas e roupas para o Outono. Mas quem disse que as folhas de Outono são folhas mortas? Elas dançam valsa bem lenta,
quando o vento as toca para outro lado da floresta!
O Outono é a estação mais gostosa do ano. Diz a música que são folhas mortas, que tiveram outrora a cor da esperança.
Mas a cor em que elas ficam no Outono é muito
mais bonita que a cor da esperança, que, durante todo ano, as mantém vivas.
Se observarmos bem as folhas no Outono,elas tocam música num canto da floresta. Formam uma verdadeira orquestra, cujo regente é a estação. O Outono nos faz lembrar a calma, ele tem alma, é o tempo ideal, de doces palavras, que outrora ouvimos em sombras, que as folhas das árvores nos proporcionavam.
Hoje, essas folhas tem um colorido lindo de um verdadeiro Outono. Elas dançam ao som da orquestra natural do Outono. Se observarmos bem, o som que as folhas fazem, quando são tocadas pelo vento, é um som de flauta, que se
mistura também com um som de violino, dependendo da velocidade do vento.
As folhas ficam em festa, dançam,estão alegres, felizes,quando tantos dizem que elas estão mortas. Não!... Elas estão é bem vivas e alegres. Porque a estação mais gostosa acabara de entrar, não tem o fogo que abrasa, nem o frio que nos faz tremer.
Num cantinho da floresta, o Outono toca flauta para que as folhas dancem.
Em breve, quando todo esse colorido for embora e o inverno chegar, vamos sentir saudades do bailado das folhas, que fazem alegrar a nossa vida. E, em um cantinho da floresta dos nossos corações, teremos saudades das folhas, que dançaram para alegrar a nova estação.
É por isso que hoje me vesti de Outono e o Outono se vestiu em mim!
Marilina Baccarat de Almeida Leão no livro  "Pelos Caminhos do Viver" página 138


sábado, 1 de setembro de 2018

As estações

As estações

A alegria é a nossa companheira, pois tem que
ser. Sem ela, jamais teríamos vivido a felicidade, durante toda a vida, desde a hora em que nascemos...
Passando pela infância, juventude e chegando,
na fase adulta, ultrapassamos a porta da rua, sem
medo de enfrentar a vida com seus percalços...
Nascemos, na primavera da vida. Por essa estação,
só pensávamos em brincar. Para nós, não havia o
futuro, depositávamos esperança, no verão, que seria a juventude... Ah... como gostaríamos que o verão chegasse logo, para podermos curtir essa estação...
Adentrando na juventude, ou seja, no verão da
vida, depositávamos, ali, a espera de que a fase adulta logo chegasse; o outono da vida, em nós...
Pensávamos, como toda jovem pensa, que a
fase do outono vai chegar e iríamos nos casar...
Somente imaginávamos, adentrando a nave de
uma igreja, com aquela marcha nupcial linda tocando...
As pétalas de rosas sendo jogadas e os convidados
a nos admirar... Esquecemos de pensar é que
poderíamos tropeçar no véu de noiva e irmos ao chão...
Não gostaríamos que houvesse aquelas promessas todas, pois, se o amor é autêntico, adoraríamos, se só existisse a festa, tanto na igreja, como no buffet, sem aquele acordo todo, recheado de promessas, que, muitas vezes, não são cumpridas...
Os sacerdotes só esquecem de fazer-nos prometer que, depois que a vida terminar, continuaremos a amar por toda a eternidade... Deveriam incluir isso...
Iríamos nos divertir muito mais... Os convidados não ficariam cansados à espera da cerimônia terminar... Riríamos muito e nos tornaríamos, dali, para a frente, casadas e realizadas, para sempre...
Seguiríamos pelos caminhos das estações da vida, retirando os espinhos das rosas e enfeitando nossos caminhos, apenas com suas pétalas perfumadas...
Não permitindo que os espinhos ferissem os nossos pés, e, portanto, caminharíamos tranquilas...
E de tal modo, prosseguiríamos, até que a velhice chegasse, ou seja, o inverno da vida, mas, já maduras e sabendo o que queríamos da vida, aproveitaríamos, muito mais, essa estação gostosa...
É a síntese da mulher, que soube construir, ao longo dos anos, fases nas estações da existência...
É a substância, que fica, em nossa essência, depois que passamos por todas as estações da vivência...
Amantes e esposas do homem a quem amamos durante toda a nossa vida e até a eternidade...
Não poderíamos ser como a rosa, que tinha inveja das outras flores, pois, quando passava pelos jardins e observava as flores, dançando ao bel-prazer do vento, que ora soprava em brisa leve e, em outras, passava com rajadas fortes, fazendo-as rodopiar...
A rosa indócil, somente queria pertencer àquele mundo, que ela admirava, mas desconhecia o porquê de haver espinhos em seu caule e não tinha como dançar com as outras flores, quando o vento chegava...
Certo dia, a rosa determinou, sem muito raciocínio, extrair todos os seus espinhos. E, mirando-se, no espelho, sem perceber o sangue, que escorria, pensou: – Estou com ar mais aprazível, um verdadeiro porte de rainha, agora poderei dançar...
E, assim, aproximou-se das outras flores, toda faceira, com um sorriso. Mas sua surpresa foi grande, quando, todas as outras flores, lhe apontaram os dedos, mostrando-lhe o sangue, que escorria em seu caule. Não era o que ela esperava... Afinal, ela era a rainha das flores, justamente pelo perfume e os espinhos...
As flores, virando-se, para ela, perguntaram, em uníssono: Retirar seus ilustres espinhos, por quê?... Eles lhe faziam, além da sua beleza insólita, a tão respeitada rainha de todas nós...
Agora, somos flores sem reinado e sem rainha, não temos a quem idolatrar e você está ferida!
A coitada da rosa, ferida, agora, sem reinado e sem coroa, por querer ser igual às outras flores, que não tinham espinhos e, sem eles, elas dançavam ao desejo do vento, livres e soltas, como ele gostaria...
Nunca seria igual às outras flores, pois tinha espinhos, mas era a rainha, com certeza, de todas elas...
Não perdeu a sua altivez, não mais seria rainha, porque o que a diferenciava, das outras, era o mais importante, aos olhos de todas as flores... Os espinhos, que ela havia retirado, é que a tornavam diferente...
Naquele mesmo dia, a rosa, que sentia muita dor, por causa da retirada dos espinhos, morreu...
A noite se findou, um novo dia raiou, com um maravilhoso sol e outra rosa nasceu, bela, cheirosa e com todos os seus espinhos, sendo eles a sua coroa...
As flores ganhavam, agora, uma nova e reverenciada rainha... Haviam esquecido a rosa sonhadora...
Não seguindo o exemplo da rosa sem espinhos, foi, assim, a fusão da mulher, que soube seguir o caminhar certo, em cada estação...
Marilina Baccarat de Almeida Leão, no livro  "É Mais ou Menos Assim" página 19

Medo da Solidão

Medo da solidão

Necessitamos, muitas vezes, estarmos sós, para
vivermos isolados e poder elucubrar, sobre a vida,
quando temos a isolação, a nos acompanhar...
Sem o retraimento  não me atiro, não me arrisco,
não me camúflo... Dissolvo-me, espalho...
Na solidão, esqueço-me. E nos silêncios com as
noites sôfregas, que são povoadas de desejos ávidos,
olho-me no espelho e me acho dentro do isolamento...
Não percebo os estímulos, não acalanto a ternura,
que mora em mim... Não aquieto os meus temores
de ser só... Com a solidão, poderei sair por aí, caçando afetos, aceitando sobejos, confundindo não estar só...
Trocarei, em sonhos, bilhetes tristes e acordarei
vazia de mim mesma... Perder-me-ei na fragilidade, que é o lugar onde encontro a mim mesma...
Sairei, com os pés descalços, braços bem abertos,
desviando-me do tempo, buscando por ternura, acolhendo afetos mendigados, para não estar sózinha...
Só para ludibriar o tempo, tendo a bravura, manter-me-ei transtornada, só para enganar o momento e não ter que esperar a vida passar, assim mesmo...
Sem a penumbra, atraiçoarei meus desejos, gracejarei sem achar graça... Só para não ter que me refugiar na solidão... Acobertarei os meus lamentos e recolherei o meu pranto, para que ninguém pressinta...
Caminharei por caminhos áridos, tendo, como companhia, a audácia... Afastar-me-ei de mim mesma, perder-me-ei nas trilhas da solidão, pois, é ali, que me encontro, de onde observo um jardim secreto, com acesso ao templo, que há em mim... Medo?... Sim, o tenho... Mas posso perfeitamente entender, que o pavor mora lá e a coragem vive em mim, dentro desse templo, para sempre...
Transformá-la, em serenidade, é atitude da assisada que posso ser... Pois, nesse mundo, onde tudo é efêmero, a valentia pode ser um suavizo e não afadigo...
A ousadia de sentir a solidão poderá ser resgate da coragem. Jamais equívoco do medo...
Em um mundo deslumbrado, por juventude e sucesso, a solidão poderá ser livre-arbítrio, não desapossado, em nós...
Quero abraços, para esquecer a solidão, mas, ainda assim, preciso aprender a ter coragem, alumiar a essência, para clarear os seus contornos e esquecer o medo...
Marilina Baccarat de Almeida Leão no livro
"É Mais ou Menos Assim" página 25