MARES E MARÉS
Navegando, pelos mares, quando ele está calmo e o sol batendo em suas
águas serenas, sentimos uma tranquilidade, que ignoramos e julgamos não haver
elucidação... Uma calmaria, que nos dá conforto...
Mas, quando estamos no meio do
oceano e a maré se torna revolta, é como se sentíssemos o mar agitado, com
ondas de mais de setenta metros de altura, a acabar com a nossa quietude,
diante da revoltada maré, que bate no barco, querendo alterar o nosso rumo... Transportando-nos para outra direção... Quando o mar se arruaça, é hábil, para acabar com toda a
nossa perspectiva, de podermos navegar
por suas águas abrandas, sem que sintamos o pavor da rebeldia do mar, a querer
fenecer com a nossa miragem, de que tenhamos uma maré de paz e pacífica...
Há marés na vida de todos
nós... As marés são refluxos, que nos
trazem aquela calmaria, exatamente, quando, a tendência do mar agitado, fica plácida...
Muitas vezes, após o mar se insurrecionar,
com suas ondas gigantescas, a bater nas pedras, parecendo requisitar o seu
lugar; a nossa maré pessoal poderá ser abalada. Pois, a violência de suas
maretas levam nossas alegrias, deixando-nos em um mar de tristeza e agonia... Como se fosse uma conflagração
em nosso ser, ele irritar-se por muito tempo, até que as ondas se acalmem e o
mar se tranquilize... Mas, temos que enfrentá-lo e
deixar que as marés da expectativa, com suas marolas, de calmarias, voltem a
ocupar toda a nossa essência...
O mar, quando está crespo, as ondas nos horripilam, o céu se
cobre de véus cinzentos. Não temos escapatória... Roubando-nos a alegria, as ondas
continuam a bater nas pedras e, com isso, sentimo-nos impotentes...
Mas, ele pode abrir caminho para uma maneira
nova de sentir a beleza da maré, quando
ela quer mostrar-nos a sua
rebeldia... Nessa
hora, o mar nos acalma e podemos observar a beleza que há, em seu balé, que,
como se fossem passos de dança, vai e volta, batendo nas rochas ... Então...
elucubramos: “Há mares e marés”...
Mares, que parecem querer-nos
engolir com toda a sua força... E marés, que resolvem bailar e encantar-nos...
O mar, com sua imensidade, nos
arrepia, principalmente, quando estamos no meio do oceano e não enxergamos
nada, a não ser a vastidão dele e,
muitas vezes, enxergamos o céu cinza... Mesmo
assim, com um mar encapelado, podemos bispar, em seus marouços imensos, a
perfeição que há dentro deles... Se
ouvirmos a sua música, quando açoita, ficaremos mais calmos... Pois elas
parecem até querer se exibirem, almejando aplausos...
Carregamos toneladas de veneno
em nossas veias, pois sentimos medo das colossais ondas...
Quando a maré se acalma e o mar
fica sereno, instala-se a bonança, para nos acalentar... E, assim,
ficamos adocicados pelo alívio, que, em nós, se instala, devolvendo-nos a paz
tão almejada...
Não nos importaremos de
carregarmos toneladas de açúcar, para adoçar a nossa vida, logo depois que o
mar se abranda... As ondas se transformam em marolas adocicadas, onde poderemos
nadar com segurança...
Os tumultos podem até ser bastante
agitados, um tipo tenebroso mesmo, que poderá nos apavorar... Mas não abalará o
nosso eu...Não fomos culpados... Quem sabe foi o vento, ou a tempestade...
Então, instala-se a calmaria em
nosso ser... E, assim, ficamos dulcificados pela fleuma, dulcificados de nós
mesmos, pela tranquilidade, que se fez...
Seja o encapelado mar bastante
violento, tenebroso mesmo, com suas ondas violentas a nos apavorar... Mas não
abalará a nossa quietude...Jamais...
Os nossos sentimentos, talvez,
tenham sido cúmplices dessa revolta toda do mar... Mas, se mantivermos a quietude, conseguiremos
passar pelo mar e vislumbrar, dentro dele, a maravilha que há, quando a maré
está agitada e suas ondas bem altas... Cúmplices, talvez, fomos nós, de toda essa
rebeldia do pélago...Mas, nossas alegrias resistem, guardando, em paz, a
beleza, que há em suas marés...
E, se olharmos, ao redor, vamos
ver que estávamos protegidos, dentro daquelas cenas, que nos amedrontaram... As ondas são altas, o mar se revolta e
não temos como acalmá-lo...Seja o encapelado mar, o calmante para o nosso ser...
Talvez, muitas vezes, esqueçamos cedo demais, que, dentro de nós, sobrevive o
mar e as marés... Todo o mecanismo do nosso corpo nos diz isso: Há mares e
marés, que podem nos apavorar...
Nossas desordens de sentimentos
são riquezas poderosas, que guardamos, dentro de um tesouro, que, no fundo do
mar, está... Assim,
é a maré alta, ora fazendo com que o mar
fique revolto, em outras, sossegado, como os ensejos de nossos anseios...
Seria caricato ficar culpando
os nossos sentires, pelo que
aconteceu... O mar encapelado, levando nossa alegria e dando lugar à angústia,
em nossas comiserações...
O resgate de nossa
prosperidade, após o passar das furiosas correntes, em nossos cálices, como se
elas fossem culpadas pelo mar convulso, que houvera em
nossas piedades, devem ser abdicados...
Vivemos culpando as marés, que,
por nós, passaram, no resgate do sofrido, arrasando com o nosso ego e
atravessando o nosso peito, como uma flecha...
É chegada a hora de repensarmos
nossos feitos, que, no ocorrido, ficaram... As ondas estupras,
altas, que fizeram com que as preamares enfurecessem o mar, a nós não mais
raiarão...Cá dentro de nós, há mares de prazeres e marés de vencedores e não
perdedores...
Derrubar, por terra, o
conceito ultrapassado dos ensejos intranquilos, que, por nós, aqui,
passaram e que, às vezes, ainda, teimam
em querer aparecer, por aqui...
Depois que o mar se acalma,
reconstruir-nos-emos, buscando, sempre, as correntes, em que o mar leva o nosso
barco... Agora, não há mais angústia...
Esse mar de agitação, que,
muitas vezes, passa, em nossa vida, não vai conseguir, jamais, levar a beleza
da nossa alegria pela vida... Nossos sentires são
nobres...Sabemos enfrentar o medo de um
mar revolto, ainda que as marés estejam apavorando-nos
e inundando nosso eu de pavor... As compaixões nascem, dentro da beleza
da maré, quando ela está calma...serena... Avistamos, em suas maretas, a tão
desejada quietude... E não há mar
insurreciono, que possa acabar com a felicidade da nossa existência...
Rebelo, mares passam e as
alacridades ficam, para nos mostrar a força, que temos, de poder vencê-los... E essa mistura de angústia e
belezas, que as ondas dançam, quando o mar está sublevo, é um mistifório, com a
força, que há, em nós... Pois
há mares e marés... Os mares, com sua
calmaria, nos dão o alento e as marés a desesperação, quando, revoltas,
estão... Se hoje, por um acaso,
mares barulhosos surgirem, em nossas vidas, sejam as ondas fortes ou fracas,
podemos demonstrar, em nossas faces, mais uma vez, que os ensejos, que vivem
dentro de nossas vidas, havemos de vencê-los, em um mar tranquilo...
Que as marés, que vivem em nós,
transportem-nos, para o lugar seguro... É
o que desejamos...
O que somos e demonstramos, mais uma vez, é que
saberemos enfrentar os mares agitados, com as marés, que caminham junto à
nós... Pois, dentro delas, existe a força, que temos, em saber enfrentar o mar,
mais violento que houver...
Marilina Baccarat de Almeida Leão, no livro "Corre como um rio"