quarta-feira, 19 de junho de 2019

Nesta Noite escura,

NO MEIO DA NOITE.

     Ouço baixinho, no meio desta noite escura, canções ao piano, lindas canções dedilhadas e que invadem minha alma. Canções, que encharcam, de beleza, minha vida, penetram fundo em minha alma e me fazem feliz. Trazem-me a calma, a alegria!
      Ah! Como gostaria de poder ouvir essa melodia, por toda a noite, que está tão escura, sem estrelas e sem lua. As nuvens cobrem o céu e o frio não me deixa abrir a janela.
    Gostaria que o céu estivesse estrelado. Que eu continuasse a ouvir essa música, pelo amor que há e que sempre houve em mim. Pelos sentimentos, que nunca foram perdidos, pela carícia, que jamais faltou...
    
    Nesta noite escura, entremeada de silêncios, ouço a suavidade das canções, que me enchem os ouvidos de paz, de uma paz, que almejo e que retenho por alguns segundos. Paz que não deixo escapar, por entre os dedos.
     Entre as lágrimas, que inundam meu piano,  finjo ser eu a pianista, compositora de uma vida, cheia de esperança e alegria.
     Ah, se esta noite escura me trouxesse, em meio às estrelas brilhantes, uma luz, ínfima luz, que iluminasse o meu breu, trazendo o belo e o bom, fazendo com que eu me sinta inebriada pelo amor. Fazer-me sentir, sempre e novamente, o amor, que esteve perdido por aí, esperando por mim, ao lado do meu travesseiro perfumado.
     A música toca, meu coração ressoa, entoa, como se cantasse, um canto de alegria, dentro desta noite escura.
     Se a vida fosse uma canção, eu saberia a escala exata e não precisaria procurar o que está dentro de mim... Ou, no silêncio, quem sabe, desta noite escura, onde não há estrelas e o frio teima em ficar.

Marilina Baccarat de Almeida Leão, no livro "Musicalidade Colorida"


Pouco a Pouco

Pouco a pouco

 Pouco menos que a capacitação do não querer e a certeza da ilusão é o desengano de muito pouco... 

O que, aproximadamente, nos perturba, que nos magoa e mata-nos aos poucos, é o pouco mais, que poderia ter acontecido e não aconteceu...   

 Quem perto está, mas, ainda, não apareceu, ainda vai vir...  Os passos, que se ouviu na madrugada, ainda se escuta o seu eco... 

Quem um pouco mais confiou e um pouco descreu, o amor para ele, morreu pouco a pouco, não mais vive... 

É o pouco que se abespinha, com o pouco mais, que deveria existir... Bastaria um pouco menos dos ensejos, que se soltaram de nossas mãos e, como pássaros, voaram, até às alturas alcandoradas, buscando cada estação, que, pouco a pouco, chegou...                                                                             

E escolhemos, sempre, a estação do ano que mais nos agrada, que é o outono, que se distancia um pouco mais do calor e, também, do frio... 

Caminhamos, um pouco mais, para o inverno da vida, sendo que a distância, entre o outono e o inverno, é muito pouca. Mas, aos poucos chegaremos lá, com nossos largos sorrisos e passos firmes...               

Seguindo, pelos poucos menos caminhos, encontraremos coragem para sermos felizes, mesmo com os nossos alicerces já fracos. As amendoeiras já branquearam e as moedeiras, pouco a pouco, não conseguem mais mastigar... 

Mas, pouco mais, decidiremos entre a alegria e a agonia...        Se pouco menos, a nossa equidade quiser apartar-se de nós, não haverá meio termo, o pouco mais tomaria a frente e teria o céu azul e o arco-íris, em vários tons, a encantar-nos...                    

O pouco menos não nos insinua, não amofina, nem abranda, somente aumenta o vazio, que está dento do mais profundo do nosso âmago...

Mesmo que todas as estrelas, pouco a pouco, estejam a brilhar em nosso céu, para o pouco menos, que temos de tolerância, nada pode ser mudado, resta-nos, apenas, a paciência, para esperar o pouco mais da felicidade, que merecemos...          

Para os poucos menos, não significa ser os nossos fracassos. E com isso os poucos mais mundificarão todos os vazios, que o tempo deixou, em nossa alma...                                

Desconfiemos, pois, do pouco menos e acreditemos no pouco mais de uma abastança plena... 

Porque, pouco a pouco, quem a esperou, até então, ainda está esperando... E quem acreditou na espera, sempre apreendeu um pouco mais...

Marilina Baccarat de Almeida Leão no livro "Velhas Portas" página 43

domingo, 9 de junho de 2019

Invenções tortuosas

Invenções Tortuosas
                                                         
                                                                                                                   Injustas são as invenções,
                                                                                                                   Julgamos     insegurança,
                                                                                                                  Ao  ver  suas  concepções,
                                                                                                                  No passado da lembrança.
                                                                                                                     Marilina Baccarat


Sentimos as astúcias aproximando-se, embora, às vezes, sintamos, também uma tremenda insegurança ao pensarmos em  tudo que se passou...
Andamos ansiosos, pois, sabemos que os inventos, todos eles, já leram todas as nossas passagens pelos alvitres da vida...
E, assim, as recordações do passado vão aflorando e nos sentimos indecisos, achando que não deveríamos ter sido tão inseguros...
Mas,  atravessando a ponte que nos liga as arestas do passado, tudo surge com essa dúvida, essa precariedade, apesar da certeza de termos agido corretamente; porque, em nosso íntimo, quando os frutos já floresceram e estão, justamente na hora de serem colhidos, sabemos que tudo o que fora  feito, não eram invenções...
Tudo estava corretamente certo, apesar de entendermos  que permaneciam errados, mas não estavam...
Invenções são assim. Tudo que carregamos, dentro delas, são símbolos de insegurança, mas, de recomeço, de inovador, quando elas deixam de serem censuráveis e se transformam em aprumadas e judiciosas...
Chegam sempre com a esperança de afetos...
É só o pensamento começar a trabalhar, que lá chegam as conquistas e muitas, nos remetendo a muitos sentimentos, que carregamos de nós mesmos...
Comiserações do realizável, do inventivo, de possibilidades tantas e muita esperança no futuro, para que todas as ementas e desejos do passado se realizem, sem que nos abrolhe a intranquilidade sinuosa...
Acreditamos nelas, rendemo-nos diante das curvas do passado, basta, para isso, alinhar a alma e deixar que reverberem e iluminem o nosso pensar com a chama de sentimentos, pois é o que move os conhecimentos passados...
Temos muito a agradecer, por terem mantido acesa, em nossos pensamentos, essa chama, não deixando que se apagasse nos momentos de invenções tortuosas, pois era o de que mais precisávamos...
Graças às sutilezas, fixamos nossos olhares em nossos desejos e fomos em busca do que sempre desejamos em nossas caminhadas: -Sentirmo-nos seguros, ao vermos suas concepções ...
Embora, às vezes, sintamos uma tremenda precariedade, que surge em nossa essência. Geralmente, elas surgem um pouco apagadas, ficamos em dúvida se erramos, ou não, lá, no passado...  
No nosso íntimo, sabemos que agimos certos, mas, ficamos nos martirizando, achando que deveríamos ter agido de outra maneira. O que passou, passou,   é assim, que diz o ditado...
Se ouvirmos as nossas próprias críticas, a nós mesmos, vamos achar que todas as ementas que temos, estão erradas e não vamos mais conseguir relembrar o decorrido, achando que fizemos tudo errado...
Deixar-nos abatermos, criando um mecanismo de  incapacidade, impediria as noções de fluírem em nós...
Se  permitirmos  que elas nos elevem a um patamar bem alto de rememorações, chegaremos à conclusão que não há retentivas erradas... Porque, se fossem tortuosas, é como se estivéssemos andando com os olhos tapados, prontos para cairmos  na armadilha do narcisismo exacerbado, ou, deixar-se abater por nossas próprias críticas, criando um mecanismo de defesa tão forte, inibindo, assim, nossas memórias...
Somente nós é que temos de ter a certeza de que são noções certas e que nos levam a viajar pelos vales da vida, fazendo-nos relembrar de todos os lances...
Mas, no meio dessa pilha de sentimentos antagônicos, no meio dessas invenções sinuosas, temos a certeza de que não há memórias tortas. Elas nos levam a termos  esperança absoluta...
Há dias em que as reminiscências nos trazem tristeza total, mas todos sentem isso, é muito natural...
Sabemos que elas virão e muitas. E as achamos importantes, desde que sejam lembradas construtivamente, sempre...
Todas as retentivas têm o seu valor, mas, daí, a serem zanzadas, seria um grande erro...
Pois, flashbacks jamais serão errados. Eles são, sim, um aprendizado; podemos mudar algo, que, nas lembranças do passado, achamos que estavam erradas, mas, também,  podemos reinventá-las, sem que elas passem incólume por nossas vidas...
Ideias são aprendizados para acostumarmos com nós mesmos, tão iguais e, no entanto, tão diferentes do que fomos. Tornamo-nos, certamente, um ser melhor depois de recordar o que passou...
Ali, podemos arrumar muita coisa, que encontramos torta, no nosso pensar, ao rememorar nos alvitres, de nossas passagens...
Graças às retentivas, que carregamos de recomeço de inovador, nos levam para lugares, tremendamente, lindos, onde caminhos, que percorremos, transformam-se nos melhores caminhos do mundo...
E sempre é tempo de rememorar as ementas   do passado e sentí-las. Devemos guardá-las no bolso de nossas vidas e relembrá-las sempre que possível for...


Injustas são as invenções, quando nos fazem temer e sentirmos insegurança...Pois, elas vibram na frequência de nossas memórias, diante das recordações mais simples. Voltando o olhar para o passado, vamos perceber, que jamais foram tortuosas, pois acaloraram nossos sorrisos, para sempre...


Marilina Baccarat de Almeida Leão no livro "Nas Curvas do Passado"