segunda-feira, 17 de setembro de 2018

andanças nas palavras






Andando Nas Palavras

Pelas andanças em livros, olhando, cada palavra, pude
perceber que palavras são passarinhos, que se soltam da gaiola
da minha alma e ruflam suas asas pelo pensamento afora.
Escuto todos os dias as palavras passarinhadas do bem-
-te-vi. A passarinha o chama passaritando, apenas, vi, vi... E a
sua angústia aumenta à medida que o macho não chega com
o alimento para os filhotes... Mas, quando ele chega, a festa é
geral, de longe ele vem passarinhando: Bem-te-vi, bem alto e
a alegria é geral, uma verdadeira festa na árvore, onde fizeram
o ninho.
Pois é, palavras são passarinhos, repare para você ver.
Eu quando sinto o peito a querer arrebentar, solto umas tantas
palavras, e, voejando as liberto, descanso um pouco do ruflar
inquieto de suas asas ansiosas, tal qual o bem-te-vi, quando
vem chegando ao encontro da sua família.
Assim, as palavras me libertam por consequência do
tanto que me sufocam. E, assim, posso imaginar o sufoco da
passarinha, que espera pelo seu lindo passarinho amarelinho,
que faz uma algazarra, quando chega, passarelando sem parar.
Só por alguns segundos, tudo se aquieta... Dali a pouco,
nascem outras palavras, dos ovos, que ficaram engaiolados.
Prenderam-lhe o peito, querendo sair e ruflaram suas asas, pelo
céu afora, passarinhando como só eles sabem passarinhar...
É por isso que digo que palavras são passarinhos, alma
engaiolada, que tem sede e fome de tudo
Nas andanças da vida, podemos observar o bem-te-vi,
que, com seu canto, solta palavras, vive passarinhando, não
se cansa de passarear... Será que se tivermos a oportunidade
de conversar, com ele, vai nos entender?... Creio que sim,
pois, como ele vive passarinhando, nós humanos vivemos
palavreando.
Palavras são passarinhos, que vivem presos nas gaiolas.
As palavras vivem presas no livro, esperando que as leiamos,
para que possam sair da gaiola, que é o livro e voar para nossas
mentes.
Passarinhos, palavras, palavrarinhos, almas engaioladas,
que têm sede e fome sempre... Nós, fome dos livros, queremos
soltar as palavras e prendê-las em nosso eu...
Os passarinhos, fome de se soltar das gaiolas,
passarinhar, ruflar as suas asas e cantar pelo 
mundo afora.
Marilina Baccarat de Almeida Leão no livro "Andanças pela Vida" página 19




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