Aqui no presente
Nas esquinas do presente,
Cá existem histórias,
Quando nos faz coerente,
Dando-nos as vitórias.
rilina Baccarat
Virando as arestas do contemporâneo, percebemos que é um outro mundo, muito diferente das
quinas, que volvemos no passado...
Percebemos, então, que por elas passam pessoas, que, iguais a nós, se cercam de sombras, dentro
de seus pensamentos, não compreendem, seu transcender no presente, pois não sabem enxergar, nas entrelinhas, suas maneiras de entender o tempo atual...
Essa gente passa parte da vida perdida, nos cunhais
do passado. Dividem seu transposto com o mundo
da realidade, onde tudo parecia ser sonho... Histórias,
que os levaram a dobrar certos cantos e, assim, experimentaram e sentiram o acertar no presente...
São momentos tão diferentes das esquinas, que
dobramos no atravessado, que ficaram gravadas em
nossas memórias para sempre... Vértices diferentes,
as quais contornamos, agora, no atual presente...
As curvas do passado, passamos tão rápido
que não nos damos conta do tempo..., tantos fatos aconteceram e, ao mesmo tempo, parece que
foi ontem, em que contornamos esses cunhais..., atravessando o tempo, até chegarmos ao moderno
período, em que vivemos...
Quando falamos do passar da época, sentimos
que a vida se assemelha a um filme em câmara lenta,
uma longa-metragem, que não vai ter fim...
Mas, com certeza, fazem parte de nossas vidas,
é um somatório de recordações, do que fizemos e do
que aprendemos com a vida...
Somos o ontem, carregamos suas marcas deixadas em nós, seus perfumes, suas doçuras. Trazemos,
em nós, tudo o que nos aconteceu e até o que nunca
vimos, mas, sentimos...
Mas, para nós, o nosso tempo é de muitas
ementas, pelas quais passamos. O nosso tempo é o
amanhã, por isso, guardamos, em nossas memórias,
tudo o que já passou...
Queremos impregnar, em nós, o que fomos, o
que tivemos e, assim, seguirmos leves, pelas esquinas
do coevo, sempre, sem nunca esquecermos do acontecido, que foi uma longa-metragem, quando volvemos nossos olhares para trás...
Claro que temos ansiedades, que ainda não conseguimos expurgá-las, são muitas tristezas, que gostaríamos de esquecê-las...
Vamos para o nosso futuro, carregados de boas
recordações, pois, elas nos levam, como plumas, a voar
para além das nuvens, sem que esqueçamos as vísporas, que um dia suportamos...
Nosso caminhar é o virar dos vértices, mirando
um mundo do intangível, em outro, chegamos até o
passado, lembrando da infância...
Nas arestas da vida, não há conclusões, pois,
tudo já ficou no passado, apenas, perguntamos, questionamos, como no voo de um pássaro, que chega
pelos cantos das recordações...
E nós conciliamos nossos olhares do passado, aguçados em nossas mentes, salvando-nos da
consternação... Recolhemo-nos nelas, procurando,
dentro delas, as passagens, que nos foram bastantes
agradáveis, pois nos salvaram das esquinas incertas,
que ficaram lá, bem distante, em um transcorrido,
que não volta mais...
No silêncio, continuamos atravessando as quinas do tempo recente, como uma chuva, que cai de
mansinho a nos preencher de nós mesmos...
Continuamos, seguimos, volvendo aos cunhais,
pois nem mesmo os solitários, que nunca voltaram
seus olhares para trás, não deixaram de dobrar as perfeitas arestas do passado...
Não importa onde estejamos, em que trilha,
agora, andamos, no tempo hodierno. As esquinas,
em que passamos, estarão, sempre, junto à nós, mesmo que nos levem para outras paragens...
As quinas do tempo foram feitas para, por elas,
passarmos, não importa se são pontas rotineiras, do
passado ou do presente. Somos um ser despreparado para aceitar a vida sem recordações: – Juntá-las será
sempre o nosso querer...
Nunca soubemos ficar sem nos lembrar das
arestas do acontecido, queremos tê-las, sempre, bem
lembradas, pois foi um passar-se que teve predicado...
Como conciliar as esquinas, que já passaram,
com a realidade do recente, sem poder lembrar-nos
delas, que, em um certo dia, passamos...
Há pessoas, que não querem se adaptar às intempéries da vida, não querem se lembrar das esquinas
pelas quais passaram. O vento levou-as a se esconder,
atrás dos cantos, não querendo lembrar do advindo...
Os vértices, em que volvemos na juventude, fazem-nos recordar de fatos delirantes, que fizeram com
que fossemos felizes... Das arestas, por onde passamos,
para seguirmos novos caminhos, novos mundos...
Há dias em que, contornando as esquinas do
coevo, as recordações chegam com mais força. Em
outros, menos, mas, somos felizes assim mesmo...
Mas, lembrar o influído, caminhando alegre no
contemporâneo, com o olhar voltado para o futuro,
é querer continuar..., é dobrar as esquinas do tempo,
no atualizado, vislumbrando, sempre, o herdado...
As esquinas da vida prática, do dia a dia, são passagens mágicas, pelas quais temos atração..., mas, seguir o presente, com os olhos bem abertos, é pensar
em querer continuar, com orgulho...
Marilina Baccarat no livro "Vértices do Tempo" página 17
Editado pela Editora Scortecci- São Paulo-Capital