quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

A mente reescreve

Às vezes, a mente reescreve as memórias, numa tentativa de fazê-las mais próximas dos sentimentos, que carregamos, dentro do nosso “Eu”... Logo, vemos-nos com lembranças imaginadas por nossa mente e as verdadeiras são relegadas a um espaço vazio, onde só há sombra... É desta forma que, muitas vezes, o nosso “Eu” sobrevive às saudades, aos medos e muitos outros sentimentos, que habitam em nós... Todo o mecanismo do nosso corpo nos diz isso... Somos feitos para fugir, para atacar, para amar... Para tentar sobreviver a qualquer custo... Somos criaturas, relativamente, simples, conhecemos o mais profundo do nosso “Eu”, seus possíveis riscos e, nesse fundo insondável, mudamos nossas reações... O nosso “Eu” nos presenteia com a intuição daquilo, que tem o poder de quebrar os grilhões de sentimentos torpes, que moram em nosso “Eu”... Se voltarmos o nosso olhar, para dentro de nós mesmos, vamos relembrar de cenas, que fazem o tempo parar de correr, que fazem com que esqueçamos tudo, à nossa volta... Viagens, que podemos relembrar mil vezes e voltar atrás e revivê-las, novamente...
Não haveria outra forma de viagem, outro jeito de imaginar como seria o nosso “EU”, se não pudéssemos vivenciar tudo, mas, tudo mesmo, como uma viagem sem fim... Escorregar para dentro de nós, pois, do contrário, não seria o nosso Eu a sentir... É como se estivéssemos em uma estação, à espera do trem, que nos levaria para dentro de nós mesmos... A mala, onde carregamos as recordações, o perfume, o som das vozes, na estação... Então, é quando tudo se faz silêncio e somente uma luz, acesa, nos lembra que estamos na estação e não há mais ninguém... Só nós, com os segredos de viagens, que levaremos para dentro de nós mesmos, no silêncio... Só nós e nossos segredos... Nosso “EU”, a nós, pentence, não haverá heideiros para as recordações, que há dentro dele... Uma pequena ponte nos levará até ele... Ela se oferece a nós, larga, aberta para que possamos entrar, e, no entanto, falta-nos a coragem, mesmo que fosse só para sentirmos um pouquinho da nossa essência, que habita em nós... A abertura oferecida. A possibilidade de irmos... Vamos dar o primeiro passo, para atravesá-la, em direção ao desejo de sentirmos, bem de perto, o nosso “EU”... Embora a porta aberta nos convide a entrar, parece que algo nos segura, como se ferros houvesse em nossos pés, a adentrar... Se não formos, não saberemos... Se ficarmos, não seríamos o “EU” de nós...
 Marilina Baccarat de Almeida Leão no livro "O EU DE NÓS"



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