segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Falaram-me...

                      Falaram-me das esquinas

                                   Indiferente as falas, prossigo,
                                             Ainda que as arestas derrapem,
                                            Meus passos são firmes então, sigo,
                                             Sem jamais permitir que escapem.
                                                  Marilina Baccarat



Falaram-me das esquinas, falaram-me ontem e hoje novamente. Disseram-me para que tomasse cuidado ao dobrá-las...
Mas eu as encurvo com a alma completamente aberta, para receber a preciosa brisa, que acalenta os meus passos, nas curvas que enfrentarei...
E continuam a falar de uma maneira tão sarcástica, que chego a ter a impressão, de que proferem lealmente...Será, que me falam sinceramente, ou sarcasticamente, pois sempre mantive meus passos firmes, ao entrar nos vértices do tempo...
Não há tristezas em seus olhares, falam-me festivamente, a parecer desejar, que eu escorregue nas curvas da vida afora...
Falam-me e não se calam. Mas, suas palavras saem de suas bocas, completamente despidas de desejos ávidos, que ao longe, quem escuta, saberá que são cruas...
Frases amenas não é para qualquer um, há de haver modéstia e compostura ao proferir...
Sei que dialogar não é fácil, e para alguns ela se mostra como um breu, a escurecer os seus olhares...
Jamais se chega ao dialogo tendo a inveja impregnada em seu ser...É evidente que me alertam pelo desejo, de me ver escorregar nas esquinas do tempo...
Falam-me de modo burlesco, como o palhaço a enganar o público, quando está em seu picadeiro...
Conversam detalhadamente, afirmando que posso chocar-me com o vento, quando a curva eu dobrar...
Falam, falam e eu nada sinto, pois, sou transparente como um espelho de cristal. Conheço todas as curvas, e os desvios, também...
E nesse caminho de falatórios, o meu calar, permite que eles falem, como se fosse uma armadilha a prender os seus falares...
E assim, com o meu emudecer, suas falas voam pelo infinito afora, a poder sentir o silenciar de seus dizeres, a sumir no céu, como uma ave migratória...
Falam do passado e do presente..., certamente que no futuro continuarão falando, para que eu tenha cuidado, com as aduncas do momento, somente para me intimidar, como sempre...


E nesse ensejo todo, tento fazer as curvas com desvelo, como sempre as faço..., pois devagar, enfrentarei os falatórios quentes, como um pianista, que se concentra na música, indiferente as falas...   


Marilina Baccarat no livro "Nas Curvas do Tempo" do passado 51 



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