domingo, 21 de agosto de 2022

Só há frio

      SÓ HÁ FRIO

       Chegando mais perto,  atravessando essa direção... Ali, as vozes se calam, a beleza é deslumbrante, só há flores e tudo está colorido...

Os raios do sol iluminam o caminho. O céu está azul e, do outro lado, da trilha, só vamos encontrar belezas da natureza, encontraremos paz e alegria. Aqui, o silêncio é necessário, palavras não surgem...  Caminhamos, por entre essas flores e sentimos a bruma, que envolve o ar, como um cortinado de tule, fino e transparente...                               

Quando a brisa nos envolve, a pele se arrepia e fica úmida com o cálido vento, que vem do mar...    As nuvens abrolham, seguimos. Do outro lado dessa vereda, a mesa está posta, xícaras e um bule de chá, esperando por nós...Não nos detemos, não temos receio do frio...

 Ouvimos, no murmúrio do vento gélido, a suavidade com que os ramos balançam, exalando um exótico perfume da terra, que está úmida...  Continuamos  a passos lentos, com cuidado, para que possamos sentir a fragrância, que exala das pétalas de flores, que se espalharam pela passagem...                    

   Há pequenos bulbos intumescidos, debaixo da terra fértil, esperando a primavera, para que possam finalmente brotar...  Ainda faz frio, é cedo, embora o sol já tenha despontado... Fechamos nossos casacos e nos achegamos...     

  Aqui é o nosso  esconderijo, para cá viemos sentir o perfume da terra molhada, das pétalas, que estão espalhadas sobre a trilha...

Quando tudo parece feio, tórrido, seco, ao subir e pular as pedras, que estão no caminho, é como se eu saísse de mim e adentrasse em um mundo encantado..., sem lugar para a tristeza, para o desalento ou para o desamor...

Esse jardim, que fica do outro lado dessa alameda, é só meu, a mim pertence. Mas, hoje o compartilho com todos, que só veem uma parte ínfima de mim...

Atingindo mais perto, percebemos a brisa cálida, tal qual o sereno, como aragem falsa...Atravessem, venham, estou esperando. Quando chegarem, sentem-se, fiquem à vontade. Segurem as chávenas de chá, cuidado, estão quentes...Beberiquem, em pequenos goles, sorvam delicadamente...

 


Conheçam-me, olhando em volta, não nos meus olhos, mas, ao meu redor, pois, sem palavras, hoje, agora, aqui, eis o melhor de mim...Fora, daqui, só há frio...Só o frio...

Marilina Baccarat de Almeida Leão, escritora brasileira

                                                             


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