Sonhar além da conta
Bebi, além da conta, sorvendo o vinho do sonho
e do Alentejo, entre o sono e a lucidez...
Dentro de um sonho maravilhoso, com conversas
entre amigas, no liminar, quando tudo parece claro
e ao mesmo tempo confuso, onde a vontade de sonhar vem como um relâmpago em dias de tempestades, e eu, precisando dela, ela chega para latejar em meus sonhos, em minhas noites sonhadoras, a ânsia, que tenho em meus pensamentos, de sonhos do viver...
Careço dessa força, desse pulsar em meus sonhos,
buscando, lá no passado, os sonhos, que ali
ficaram... Como se não coubesse em mim, essa inebriante leveza, que os sonhos me trazem...
Parada diante de mim mesma, do que sou, embriagada de mim mesma, por ter bebido o vinho do sonho, sorvendo, em pequenos goles, o desejo da
minha alma, de transitar pelos caminhos, que há no
sonho, o desejo de sonhar por toda uma noite.
Na escuridão da noite, revejo tudo o que quero,
o que preciso, buscar, dentro do sonho, o encanto de sonhar...
A porta, que me leva ao sonho, está aberta, não
sei se saio ou se fico... Vou retroceder com meus passos, fechar os olhos, para continuar a sonhar, para que eu, dentro do sonho, tome forma e me torne a mim.
Bastaria um caminhar trôpego, um passo, apenas,
para adentrar num mundo onde tudo é verdade...
O que o meu imaginário guardou durante tempos,
agora o sonho me mostra claramente, me fazendo
adentrar por suas portas, onde ali, naquele mundo
do sonho, vemos tudo diferente, onde relembramos
o passado como uma luz a clarear os caminhos do
sonho...
Um passo, apenas, mas não em falso, nos leva a
passear por esse mundo encantado do sonho, onde
só há verdade, mentiras ali não entram, pois ele mostra, com clareza, tudo o que se passou nos sonhos do passado...
Bebi, além da conta, o vinho do sonho e a noite
foi longa, com longos sonhos me levando a rever o
passado, de uma maneira maravilhosa, talvez por ter
a necessidade de sonhar e poder, dentro do sonho,
rever a infância e juventude, que me foram belas...
Além da conta, ou talvez, aquém da conta, na matemática louca, insana, santa, que é a conta sem nota fiscal do nosso viver.
Na contagem regressiva do sonho, além da conta, o
sonho me mostra todo o meu viver, dentro de seus vales, seus rios, que, ao descer, com a correnteza, vai levando com ele todos os momentos tristes e só deixando, em sua margem, os momentos felizes, que, além do sonho,
ficaram aquém de mim mesma.
Marilina Leão no livro "Em Busca dos Sonhos"
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