segunda-feira, 2 de julho de 2018

Os rios não vão silenciar

                      COM O PASSAR DO TEMPO


                                           Os rios não vão silenciar    
                                           Eles seguem o seu curso   
                                          Me mostrarão meu caminhar    
                                         Que devo seguir com o calar
(Marilina Baccarat)





  Com o passar do tempo, aprendi a reconhecer os flúmenes, pelos  barulhos de suas águas, quando batiam nas pedras ao descerem com suas torrentes até o mar... Logo que os vejo surgir do alto das montanhas, percebo o peso de suas águas...São rios diferentes, assim como cada ser humano, também, é diferente em seu caminhar, rumo ao seu objetivo...
Em cada pessoa vislumbro um andar diferente, o que houve antes e o que poderá acontecer em seguida... Mas aqui, onde avisto os rios, surgiu em mim algo diferente...
Os longos dias de solidão, as noites silenciosas, a companhia única dos ruídos da natureza,  sintonizaram em mim, outro tipo de percepção...
Ouvindo as infelicidades das pessoas, muitas vezes me pergunto se elas estão contentes com o mundo de agora...Esse mundo sempre apressado, sobrecarregado de coisas... Prisioneiro de uma vulgaridade  que conspurga todo o respiro... Tenho certeza de que a primeira coisa a irritá-las, seria primeiramente o barulho...De todas as formas de violência, é a mais sutil, o mais devasatador...
É por isso, que temos de ensinar as crianças a ouvir... Se ensiná-las a ouvir, elas poderão ancorar, ali, alguma coisa...Mas, quando os ouvidos estão distraidos, então basta o mais tênue sopro de vento, para levar tudo embora... O silêncio que todos tanto receiam, na verdade não existe, cada ambiente tem sua própria voz...É preciso aprender a ouvir...
No mundo do imaginário do flumens, onde o aguçar do ouvir  me toca e meus  sentires vivem atentos,.é um mundo diferente... É com as crianças que precisamos recomeçar, se quisermos mudar o mundo... Lá, no descer do rio,  é um mundo, onde  o perceber apoderam-se do meu viver e viverei transitando com pessoas, que, como eu, conhecem o sentir, transitam, mas não habitam ali, naquele mundo...
Quem sabe não querem ter o trabalho de observar os diferentes flumens, os  barulhos de seus cantares. Mas, acontece que os conheceres podem ser prazerosos... Mas as crianças não são como os golfinhos, eles nunca escreveram a divina comédia...Se ensinarmos as crianças a ouvirem, os diferentes barulhos, que o rio faz, elas aprenderão e saberão distinguir...O rio não vai se calar...    Elas conhecerão quando o rio vem bem calmo e canta uma música como um adágio e outro como uma sonata, que ao chegar ao fim, nos emociona Com o tempo, quando soubermos distinguir um rio do outro, aprenderemos a escutar os seus barulhos... Uns descem apresados correndo, batendo em suas rochas e fazendo um tremendo de um barulho...Outros descem calmos, desviando dos obstáculos e sabendo contorná-los, até que suas águas cheguem ao oceano..     
Com o tempo, o prazer de possuir a felicidade, ao aprendermos a distinguir um rio do outro, vamos saber compará-los ao ser humano, que hora dimana como um determinado rio e, outras deslizam com a maior calma, até chegarem aonde desejam...
Alguns regatos ficam surpresos e ofendidos, pela reação do mar, porque não entende a sua boa vontade,seu desejo de fazê-los felizes...
Outros ficam ofendidos, porque o rio, pai de suas águas, só consegue  fazê-lo chegar até certo ponto, pois encontra muitos obstáculos pela frente... A partir dali, ele está sozinho, sabendo que naquela solidão teria de enfrentar as suas sombras, que as montanhas refletem em suas águas que estão tranquilas...
Assim é o nosso viver, agimos como os rios. Há o sentimento da felicidade, que nos leva até às alturas alcandoradas e nos trazem alegrias...Esses sentimentos de alegrias nos libertam, nos salvam das angústias e tristezas... Muitas vezes, com o tempo, acabo pensando na interligação dos rios com o mar e acabo pensando em seus barulhos... Não no que se transformou,  a  morte deles, quando pelo caminho, vão abastecer lagos e não o mar... Em algo diante do qual coloco um biombo ou algo parecido, para escondê-lo...Um fato quase, sempre consumado em absoluta solidão , um leito a ser limpo, a espera de ser ocupado por outro...
A loucura dos nossos dias, afinal, também tem tudo a ver com isso, um leito vazio e um espaço a ser ocupado... Há pessoas, que não entendem o correr do rio, não se conformam, quando eles transbordam, trazendo angústias e tristezas... Não entendem esse transcender do mundo imaginário dos flúmenes. Simplesmente, não enxergam, no sentido implícito, o mundo maravilhoso, quando suas águas carregadas de emoções, descem lentas ou agitadas...
Vivem a vida inteira sozinhas, não tendo com quem dividir seus espaços, por mais que queiram e se esforcem, nunca irão conseguir, por não acreditar...
Quando os rios chegam, ao londo de suas jornadas, mostra-me  um mundo tão diferente, que me completa, pois é um mundo de dúvidas, que chega  inesperadeamente, mas com a solução conclusa, com o passar do tempo...


Os rios, jamais, vão silenciar...No silêncio da minha alma, vão me ouvir...Eles seguem o seu curso  e me mostrarão o caminho que devo seguir com o passar do  tempo...      

       
       Marilina Baccarat no livro "Corre Como Um Rio"

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