terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

      A MENINA QUE GOSTARIA DE VOAR



Mariana era uma menina, que não tinha asas,

mas, gostaria muito de voar, de poder ter asas...


Tal qual os pássaros, gostaria de voar, para po-

der, no infinito, voar e saber o que haveria atrás das 

nuvens, que ela avistava como, se algodão fossem...


A menina, sem asas, morava em uma casa ama-

rela, cujo portão e as janelas eram pintados de azul...


A casa de Mariana tinha duas janelas, que da-

vam para a rua e duas que, através delas, podia se 

avistar o quintal da casa e os pássaros, que, lá, davam

rasantes, para pegar algumas sementes...


Ali, em uma das janelas, ela avistava o quintal, 

onde os pássaros pousavam... Gostaria muito de con-

versar com eles, perguntar como faria, para que pu-

desse ter asas e poder, ao infinito, chegar. Voando...


Nessa casa amarela, em que Mariana morava, 

havia um lindo jardim, onde pássaros, sempre, vi-

nham visitá-lo, principalmente, o beija-flor, para tirar


o néctar das flores, que sua mãe havia semeado...

Certo dia, enquanto sua mãe aguava o jardim,

com a mangueira, Mariana tinha, em suas mãozinhas, 

um pequeno regador, para ajudar a mãe colocar água

nas flores, que estavam lindas e perfumadas...


A casa era pintada de amarelo, mas, Mariana ti-

nha a pele cor de rosa, como todas as meninas, com 

asas ou sem elas, aliás, seus cabelos loiros realçavam

com sua pele rosada... Seus olhos azuis combinavam 

com o azul do portão e das janelas, onde, vez ou ou-

tra, algum passarinho resolvia fazer seu ninho...


Como ela gostaria muito de ter asas, resolveu,

certo dia, conversar com um lindo pássaro azul, que

pousou em sua janela e, olhando para ela, ficou...


Mariana se aproximou e logo puxou conver-

sa com o lindo passarinho: – Olá amiguinho, como 

posso fazer para ter asas como você as têm, para que

eu possa voar também, como você?


E não é que o passarinho entendeu o que Ma-

riana  perguntou e lhe disse que, asas, a gente nas-

ce com elas... Não seria possível colocá-las e, muito

menos, comprá-las, a não ser que ela arrumasse um 

anjo como seu amiguinho, quem sabe ele consegui-

ria, para ela, um lindo par de asas...


Mariana pensou, pensou, mas não foi trouxa,

logo bolou um meio de poder conversar com algum

anjo: – Quem sabe se eu subir em uma roda gigante

bem alta, conseguirei me encontrar com algum anjo,

que me dará um par de asas...


Certo dia, foi ao parque de diversão e, com mui-

ta vontade de se encontrar com um anjo, subiu na 

roda gigante... Lá, em cima, a roda parou e Mariana,

com tanta vontade de poder encontrar um anjo, até

teve a impressão de que havia visto sua asa.. Mas, era

uma parte das nuvens que envolvia a roda gigante...


Havia uma mangueira frondosa, na frente da

casa amarela, a casa onde a Mariana morava...

E por ser mangueira, mangas davam, não peras

ou ameixas, mas mangas, amarelas, alaranjadas... 

As mangas eram suculentas, lacrimosas, pin-

gando mel, eram tão perfumadas e doces...


Quem por, ali, passava, ficava adocicada com o

mel, que pingava das suculentas mangas... 

Ficaria sumarenta, perfumada com o doce perfu-

me, que exalava das mangas alaranjadas, amareladas...


E, por não ter asas, a menina voava como po-

dia... Abria livros e viajava pelo mundo, através das 

estórias, que lia em uma coleção vermelha, de capa


dura, com lindas estórias, de meninas, que consegui-

ram ganhar um par de asas e voar para o infinito, 

para poder, por detrás das nuvens, conversar com os

anjinhos, que se tornaram seus amiguinhos...


Virando as páginas desses livros, Mariana ob-

servava lindas figuras e se deslumbrava com aquilo...


Sentia como se estivesse voando e, pelo cami-

nho, encontrando-se com um anjo, de asas longas, que 

sorria para ela... Como ela gostaria de ter aquelas asas...


Quando parava de virar as páginas do livro, que 

estava lendo, parecia que tinha, em suas mãos, peda-

ços da asa do anjo, que ela houvera encontrado pelo 

caminho da sua imaginação. Nas páginas daquele li-

vro, que ela acabara de folhear e lê-lo...


Ela quisera poder voar até a frondosa mangueira 

e, de lá, poder avistar, de cima, da mangueira, os pas-

sarinhos pousarem no chão, para ciscar as pequenas 

sementes, que sua mãe jogava por lá, para que eles 

pudessem se alimentar... Ali, também, eram coloca-

dos pequenos pedaços de frutas, que sua mãe, cuida-

dosamente,  partia e lá deixava, para os pássaros...


Assim, a menina, da pele cor de rosa, seguia so-

nhando, em um dia, poder ter as asas de um anjo e 

poder voar até às alturas, onde nasce o arco-íris...


Quem passasse em frente à casa amarela, de ja-

nelas e portão azul, jamais saberia, que, ali, morava 

uma menina, com a pele cor de rosa, que gostaria de

ter asas, mas, não as tinha, possuía o imaginar de cada

página soberana, de um livro... Mesmo sentada em

sua cama, olhando para o céu, se achava senhora de

si, coroada de estrelinhas, tinha certeza...


Mariana, a menina rosa, sabia que, em seu mundo

imaginário, era rainha. E, em sua casa, entre seus 

livros, alada era e asas tinha...


Marilina Leão no livro "Pérolas Cultivadas" página 237









quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Ser e Viver

 

                                                                 Ser e viver é saber ser feliz,

                                                                 É saber se doar sem a gana,

                                                                 Sem ter a infâmia de ser feliz,

                                                                Colhendo com relevo a  pena.

                                                                    Marilina Baccarat

 

 

 

 

Uma das maiores artes, de ser e viver, é saber abrir mão das realidades, que não servem mais, como o rancor, a inveja, para receber com gratidão uma nova realidade e, depois abrir o coração para se doar com amor...

Quando  abrimos o coração, certamente, é  estar aberto para receber e reconhecer as pequenas e grandes coisas, que chegam ao nosso caminho...

Elas surgem com gratidão, mesmo que não estejam dentro das expectativas...

Procurar dar atenção, carinho, uma palavra amiga, sem esperar nada em troca...

O dia se inicia, quando acordamos, qualquer que seja o horário...

Nunca é cedo, jamais é tarde; simplesmente é o tempo de todos nós...

O passo atual é o mais importante, pois não há o último passo..., somente o hodierno passadouro rumo ao tempo, que à nós é dado...

O próprio elo da vida, que é o amor e a paz, é mais importante, vital e livre...

Quando começamos a nos doar em amor e dar atenção, para os outros, começa a paz de ser e viver...

Ouvimos, com o coração, alguém, que esteja precisando de algo, sentimo-nos útil...

No final do dia, quando a noite chega, antes de colocarmos nossas cabeças em nossos travesseiros, experimentamos a paz, sobre tudo, como os momentos e oportunidades em que permitimos ofertar o nosso tempo, com carinho...

Depois, poderemos dormir com alegria e paz no coração, pois praticamos a arte de se doar e, de fato, somos privilegiados...

Afinal, as pessoas especiais não têm medo de serem vulneráveis, não temem dividir conhecimentos, compartilhar sonhos, ideias e alacridades...

Sabem que não são únicas, mas que fazem parte de um todo..., elas têm prazer em estender as mãos...

 


A qualquer hora, dia ou lugar, podemos agir com o coração... E tendo a certeza de que o amor e a paz, são o que faz a vida ser maravilhosa...  

                                                                                                         

                                                    


quinta-feira, 23 de dezembro de 2021


Conselhos para novos escritores, que desejam participar dessa estrada maravilhosa, que é a literatura.

1) Marilina Baccarat de Almeida Leão, escritora brasileira, escreve pela madrugada adentro, até as 4h00... Quando o sol desponta no horizonte, ela já escreveu e, dorme até ao meio dia. Escrever pela madrugada, ou, pela manhã o rendimento é melhor...

2) As redes sociais e o celular, são os maiores aliados da procrastinação, por isso, Marilina Baccarat desconecta-se de todas as suas redes sociais durante as horas em que se dedica a escrita.... É claro que, a vontade de checar as novidades do facebook, do twitter, do Instagram, as fotos de nossos amigos é uma vontade, mas, se o escritor quiser realmente ser um escritor de sucesso, o autocontrole, a disciplina e o compromisso com o trabalho, devem vir em primeiro lugar.

3) Cobrir-se de doses diárias de novas ideias, este é um dos segredos da escritora brasileira Marilina Baccarat, manter um fluxo constante de pensamentos...

4) A escritora aconselha que todos os escritores iniciantes, separem alguns minutos do dia para um relaxamento, antes de começar o trabalho. Uns minutos de reflexão, onde devemos rever tudo o que está a nossa volta e, aliado à sua criatividade e imaginação. Construir um universo que será posteriormente materializado pelas suas palavras...

5) Escrever todos os dias, mesmo quando não tiver veleidade para escrever.... Não deixe de exercitar constantemente a sua escrita.... Pois, a cada escrita, surgem novas nuances, novas perspectivas e passamos a enxergar com os olhos da alma...

Pensamento do escritor Russo Tolstói:
“Devo escrever a cada dia sem falhas, não tanto pelo sucesso do meu trabalho, mas para não sair da minha rotina”
Tolstói (escritor Russo, que distribuía seus livros de graça para o povo Russo)

Marilina Baccarat de Almeida Leão escritora brasileira



quinta-feira, 16 de dezembro de 2021


Seguindo contra o vento 

Um dia seremos alados, 
Voando seguindo o vento, 
Então, ficaremos calados, 
Indo contra o sentimento. 
    Marilina Baccarat 

 Passamos a vida toda enfrentando o vento, quando viramos uma curva e vamos contra ele... Mas, há pessoas que não sabem enfrentar o vento, só andam a favor de qualquer rajada... Olhamos, em volta, notamos que só se veem pessoas desanimadas, que nunca abarbaram uma ventania, pois, nem passado elas o têm... Enfrentamos rajadas, tempestades e nos acostumamos com elas, ficamos dias e noites relembrando os caminhos por onde passamos, afrontando o vento... Caminhando contra o vento, incluímos flores nas passagens, que o vento faz, enquanto muitos não as consegue vivenciá-las... Acostumamo-nos, desde pequeno, a ultrajar os vendavais e vamos introjetando, na gente mesma, a coragem para defrontar-se com eles... Quando estamos tristes, ou os nossos dias estão sem sentido, como se tudo estivesse cinza, vem, sempre, o favônio, com a melhor das intenções, dizer-nos para continuarmos... 

Mas, como consolo, para tanto ventar de tristeza, que cai sobre a gente, ele nos arenga, interiormente, como se estivéssemos insensibilizados: – pare de reclamar, é só seguir em frente que há muitos caminhos floridos, pela frente, onde há vento e pode-se seguir contra ele, ou a favor dele... 

Então seguimos essas ventanias e encontramos gente, que se acha o máximo por ter ventos de alegrias, e nós, com tantas esfinges, nos achamos ineficazes... Achamo-nos infelizes, mas, se voltarem as rajadas, que arrancam as grades das janelas, para trazer a felicidade, a gente vai ver que somos é muito venturoso, pois, temos o direito de sentir o vento e viajar com ele, pelas recordações... 

Sentimos que os sopros dos ares, que são prósperos, permanecem em nossas mentes para serem sentidos, por isso, eles afloram em nós... Precisamos dar vazão às aragens, deixar que elas se manifestem em nós. Se precisar chorar, a gente chora, se necessitar espernear, a gente esperneia, se carecermos de gritar, a gente grita...

 Sentimos raiva, experimentamos a dor, mas, percebemos a alegria..., mas, em nós, a compaixão tem seu lugar, quando sentimos tudo isso... Subestimamos as brisas, que trazem a felicidade, tornando-as pequenas, fingindo não as perceber... 

Regozijamo-nos com pequenas passagens das refegas, mas, esquecemos dos grandes vendavais, que já passaram pela gente...  Sentimos setembro aproximando-se, é o mês em que a primavera traz, de volta, pequenos tesouros, que estavam guardados, intumescidos na terra... Deslembramos de que algo de bom acontece para a gente, na primavera... Temos flores e perfumes, que exalam das floradas... 

E ficamos sumarentos, perfumados, continuando a caminhar contra o vento... Existe, sempre, um dia para vivenciarmos reminiscências de uma época da nossa vida, em que foi possível sonhar, fazer planos e realizá-los, mesmo com as dificuldades que as ventanias colocaram à nossa frente... 

Um dia, para encantar a vida e viver seguindo as brisas, com toda a intensidade, sem medo de sentir, nos alvitres da vida, a tristeza, que, vez ou outra, aparece... Nesse dia, tudo vai parecer cinzento, mas, poderemos recriá-lo, vesti-lo com todas as cores do arco-íris, entregar-nos a todas as fugacidades, como se estivéssemos voando com uma roupa feita sob medida, caindo muito bem em nosso corpo. Voaremos até às alturas alcandoradas, sempre junto às lufas, que nos levarão...

 Seria um dia para termos coragem de enfrentar todos os desafios, que as refegas tristes nos trouxeram e teremos disposição para tentar fazer das tristezas, que, até nós, chegaram, algo, que nos eleve, nos transporte a voar alegres, felizes, com o sopro... Seria maravilhoso ter um dia somente para nos tornarmos alados, juntos com as rajadas... 

Sentaríamos na varanda e, olhando as flores do jardim, imaginaríamos momentos felizes, outros, menos, mas, todos com suas maneiras de ser, que nos dariam uma alegria imensa, como se pássaros fossemos... Abandonaríamos o presente e volveríamos ao passado, onde, outrora, andamos seguindo, muitas vezes, para os caminhos tortuosos, mas, ao chegarmos ao fim, ali, encontraríamos o descanso, que tanto desejamos...

 Caminhar contra o vento são caminhos estranhos mesmo. Ora nos levam juntos, a dançar e faz-nos lembrar do pregresso, até da valsa, que dançamos aos quinze anos, com o pai... Levam-nos a lembrar as alegrias, do passado, o sorriso das pessoas, a porta da rua por onde passamos um dia, seguindo caminhos tão diferentes... 

Quando caminhamos contra o vento, ele tem a duração do instante em que passam em um segundo... Um dia, em que é fugaz em nossa vida, mas é um dia especial, que reservamos para, junto ao vento, relembrar o passado...

 Um dia, para voarmos contra o vento, seria o presente e poderia ter a duração da eternidade. Afinal, gostaríamos que o vento nos levasse a voar. Todos somos assim, queremos ter um dia para voejar, contra, ou a favor, não importa. O essencial é poder sermos alados e, com o vento, voarmos...

Marilina Baccarat de Almeida Leão no livro "Vértices do Tempo" Página 96

 

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

O mar dentro dos sonhos


 Sei bem quem fico, Por certo oposta No qual me perco Onde se nota, Nesse riacho, Que esta sou eu... Talvez, quem sabe? 
Quando o vento fica lufando, por vários dias, sobre o rio, é sinal de que suas tiorgas vão mudar o seu curso... Elas vão desembocar no mar, por outro trajeto... Contudo, ele tem horror ao vazio, então, procura contornar as pedras, que, pelo caminho, estão, e, ao passar, consegue seguir o mesmo percurso, que sempre fez, até que suas águas cheguem ao mar e se tornem salgadas... O que deveria brotar, naquele momento, deveria ser eu mesma... Estar, ali, naquela hora e poder assistir ao entrosamento do rio com o mar... Mirando aquele oceano, o meu céu estava vazio, eu não era uma pedra e, portanto, o sol podia me  esquentar... Mas, o que resultava desse aquecimento do sol, parecia-me ser um circuito elétrico. As minhas veias, os meus nervos eram a fiação, através da qual a eletricidade corria veloz, soltando faíscas... Nada parecia interessar-me... Mas, era, apenas, um sonho, para que eu pudesse recordar o passado... Oh...lugar lindo, para que eu pudesse rememorar, onde ele me mostrava, deslumbrantemente, etapas de minha vida... Passagens maravilhosas, que, um dia, eu tive a doce alegria de palmilhar... Vontade de correr atrás, insistir... Pedir uma explicação... Mas, pedir a quem, ao sonho? Não é sempre que temos a oportunidade de que os devaneios sejam repassáveis, ainda que, dentro deles, seja como se o passado estivesse em construção e o futuro prometendo ser lindo, tal qual a onda do mar, que ele traz até a praia e nos encanta, com suas espumas bem brancas, a nos deslumbrar... Talvez, coisas que não servem para nada sejam as mais importantes... Até as sonhadas expressavam nosso temperamento vital, cheio de alento, incapaz de enxergar as sombras... Seriam elas, também, duvidas, esfaceladas, quebradas em mil pedaços, até serem forçadas, algum dia, a recolher os fragmetos e a tentar recompor as sobras... Pois, pessoas só ficariam inteiras, quando aprendessem a vencer as sombras... Em certas épocas da nossa vida, dentro de nossas noites, passeamos pelas mais lindas praias, que, antes, não conhecíamos, somente os nossos sonhares nos mostraram... 23Corre como um rio A cor do mar, em tom sobre tom, vai do verde esmeralda ao verde água clarinho, e a temperatura da água, como imaginamos, é morna e o vento está, sempre, soprando a nosso favor, levando-nos a passeios, de barco, até os lugares mais lindos do nosso passado, que, em nossa memória, ficou... Nesse mar, quando a maré desce, é a hora em que podemos mergulhar, para que possamos avistar, lá no fundo, épocas, que já passaram e enxergaremos peixes de todas as cores e desenhos... A água desse pélago é tão transparente, que dá para ver, claramente, todos os mergulhos, que já oferecemos, até aqui, no presente... Mas, quando a maré se tornou encapelada, eu sabia bem quem eu era, ilógica, no qual me perdia e, ali, me encontrava comigo mesma, nesse violento oceano e tinha a certeza de que aquela era eu... Quem sabe? E tem muito mais beleza, na imensidão desse golfo e, o que é mais belo é o sol, o tempo todo refletindo em suas águas... Poderei ter a certeza, sem dúvida alguma, de que, dentro dessa enseada, que, em meus sonhos, aparece, existe o paraíso, que é, ali, dentro dos devaneios... Então, naquela noite, dentro de meus sonhos, sentindo o cheiro do lagamar, que trazia suas ondas, com as espumas brancas e perfumadas, ví, em seu recôncavo, calmo, tranquilo, sereno, como sempre foi, em meu sono... Ouvindo o barulho das ondas, a bater nas rochas, como a pureza de um cristal, contrastando com 24Marilina Baccarat de Almeida Leão o timbre da minha voz, achei que havia encontrado o meu porto seguro... Uma base, que, com alicerces seguros, daria novo alento à minha vida, dentro desse riacho, que é um imenso oceano, onde me acho... O passado foi bom e é afável recordá-lo, principalmente, quando estou dentro dos sonhos, apreciando a calmaria do imenso mar. Isso é maravilhoso, pois são poucos que têm o privilégio de sonhar com o aguapé e tudo que há nele... Observava um garoto a jogar uma bola para o seu cão, uma criança seguia de mãos dadas com seus pais, que a erguiam de vez em quando para fazê-la voar, e suas risadas confundiam-se com o rumorejar das ondas, que o mar, generosamente, as jogava de encontro às pedras... À noite, chovera, abundantemente, o ar estava frio e nuvens carregadas e escuras corriam ao longe do horizonte... Na praia do meu sonho não havia ninguém, naquela noite... Enquanto caminhava, nas areias brancas do mar, segui em silêncio e consegui reviver o passado, onde, no mar, me achei, dentro dos meus sonhos...

Marilina Leão no livro "Enquanto Espero o Sol"

A ROSA SONHADORA

⁠A rosa tinha muita inveja das outras flores, pois, quando passava pelos jardins e observava as flores, dançando ao bel-prazer do vento, que ora soprava em brisa leve e, em outras passava com rajadas fortes, fazendo-as rodopiar...
A rosa indócil, somente queria pertencer àquele mundo, que ela admirava, mas desconhecia o porquê de haver espinhos em seu caule e não tinha como dançar com as outras flores, quando o vento chegava...
Certo dia, a rosa determinou, sem muito raciocínio, extrair todos os seus espinhos. E, mirando-se, no espelho, sem perceber o sangue, que escorria, pensou: – Estou com ar mais aprazível, um verdadeiro porte de rainha, agora poderei dançar...
E, assim, aproximou-se das outras flores, toda faceira, com um sorriso. Mas sua surpresa foi grande, quando, todas as outras flores, lhe apontaram os dedos, mostrando-lhe o sangue, que escorria em seu caule. Não era o que ela esperava... Afinal, ela era a rainha das flores, justamente pelo perfume e os espinhos...
As flores, virando-se, para ela, perguntaram, em uníssono: Retirar seus ilustres espinhos, por quê?... Eles lhe faziam, além da sua beleza insólita, a tão respeitada rainha de todas nós...
Agora, somos flores sem reinado e sem rainha, não temos a quem idolatrar e você está ferida!
A coitada da rosa, ferida, agora, sem reinado e sem coroa, por querer ser igual às outras flores, que não tinham espinhos e, sem eles, elas dançavam ao desejo do vento, livres e soltas, como ele gostaria...
Jamais seria igual às outras flores, pois tinha espinhos, mas era a rainha, com certeza, de todas elas... Não perdeu a sua altivez, não mais seria rainha, porque o que a diferenciava, das outras, era o mais importante, aos olhos de todas as flores... Os espinhos, que ela havia retirado é que a tornavam diferente...
Naquele mesmo dia, a rosa, que sentia muita dor, por causa da retirada dos espinhos, morreu... A noite se findou, um novo dia raiou, com um maravilhoso sol e outra rosa nasceu, bela, cheirosa e com todos os seus espinhos, sendo eles a sua coroa...
As flores ganhavam, agora, uma nova e reverenciada rainha... Haviam esquecido a rosa sonhadora...

Marilina Baccarat de almeida Leão, no livro "É Mais oui Menos Assim






         


 

sábado, 30 de outubro de 2021

Aonde Recordações nos Levam

 

          Aonde Recordações  Nos levam

 

Existe o momento em que as memórias passam pelo tempo, não são percebidas, mas, ainda assim, são eternizadas, muitas vezes em lágrimas ou risos...

Assim era a vida de Heloisa e suas retentivas. Escrevia por horas, dias, meses e assim formava seus contos, escrevendo com sua caneta dourada...

 Cada letra escrita se transformava em palavras, vidas, que se trançavam, cruzando páginas e mais páginas com sua caneta dourada, onde as Reminiscências a levavam... Tudo, o que por aquelas páginas se escrevia, se enlaçava em suas recordações...                   Confusa, por vezes, Heloisa ficava tentando voltar, desfazendo o que já havia escrito...

 Mas, aos poucos, ela ia percebendo que, o que parecia estar errado, naquelas folhas, davam uma beleza ao seu escrito, que lhe dava personalidade...

Para sua alegria, observou que, ali, suas Impressões estavam sendo relatadas como, realmente, o eram, sendo levada pelos lembretes...

 Parecia que iria atingir o mundo com seus escritos, que, por vezes, pareciam flores, ou estrelas, que acentuavam o trabalho de uma vida e de longo tempo...

 As lágrimas de Heloisa faziam com que as páginas se tornassem um desafio à sua caneta dourada, que rangia ao forçar a letra entre suas lágrimas. Com seu sorriso, enxugava as páginas, e continuava seu trabalho, sendo levada por todas as suas ideias...

 Vez por outra, ela percebia um fio caído na página e sorria, era um cílio, tirava, colocava na palma da mão, fazia um desejo e contava quantos tapas deu na mão, para que ele se soltasse, o número indicaria o tempo do desejo se realizar e, sorrindo, voltava a escrever...

 Perdida, em suas nostalgias, ali ficava, ao lado de sua caneta dourada, com os olhos desejosos, para terminar de alinhar tudo e desalinhar o pensamento de quem iria ler...

 Heloisa, apenas, sorria, como se soubesse das memórias de cada um... Escrevia aqui, arrumava ali, e, assim, continuava a colocar no papel, em branco, todas suas recordações...

 Conhecimentos, que a levassem por caminhos floridos, caminhos do coração...

 Muitos caminhos de suas tradições eram formados de pedra batida e seca, caminhos desertos, onde a solidão, vez ou outra, aparecia...

 Mas, Heloisa achava interessante a solidão, que muitos sentiam, de caminhos incertos e sem razão...

 Pois, muitas vezes, gostava de ficar sozinha, mas, jamais sentia solidão...

Parava, por alguns instantes, segurando sua caneta dourada e pensava: Caminhos são escolhas, que cada um faz, nesses caminhos poderemos nos perder, ou, quiçá, nos encontrarmos com nossos alvitres...

 Heloisa continuava, pois, o seu sorriso era puro, sua felicidade seria capaz de iluminar todo o mundo. Pois, sabia ser liberta das sugestões tristes, sendo, extremamente, feliz...

O tempo de suas invenções retratava lugares reais ou imaginários, tramas, romances e outros tantos...

 Suas invenções não traziam nada de mistério, apenas lembrava de passagens reais, que ficaram em sua  memória  e as colocava no papel. Sempre usando a  sua caneta dourada...

Saía, sempre, em busca de algo, que encontrava em seu passado, buscando algo difícil de se perceber que sempre existe e existirá.Indiques, que  podem, muito bem, ser resolvidas...

 Sempre, as propostas levavam Heloisa, por uma busca de algo difícil de ser encontrado, mas, tinha a certeza, de  que, sempre, estiveram lá...

-Onde nossas reminiscências nos levam? Pensava ela, mas, logo recordava de histórias, que estavam guardadas em suas memória e que, agora, poderiam ser relembradas...

 Seus anseios a levaram para bem longe, onde podia recordar de um homem, que vivia solitário com seu cachorro, cada qual no seu canto, na varanda de uma casa, que ficava no meio da devassidão de uma floresta...

Seus olhos distantes, olhando além da janela, lembrou-se dessa cena, que havia visto no passado, de um homem e seu cachorro...

 Dias e noites passavam e tudo permanecia como de costume, calor, frio, não se percebia o som da música, que o vento, cuidadosamente, trazia, o cheiro da primavera e nem as cores que generosamente se desdobravam para chamar a  atenção, daquele homem, quase que gritando: Oi, é chegada a primavera!

 Nada parecia despertar a atenção do homem e seu cachorro. Só reclamava do inverno, essa estação fria, que parecia despertar os dois de uma inércia irritante...

 O homem, com frio nos ossos, do cobertor velho, surrado, da pouca comida... O cão uivava, quando ia urinar nas árvores, que o ignoravam por completo...

 Entretanto, o homem nunca prestava atenção no que estava logo, ali, bem à sua frente. Poderia ser uma cena alegre ou triste, para ele tanto fazia...

 La estavam dois amigos, que não sabiam viver, um não falava, outro não latia, tudo era silêncio, sem vida e, assim, poderiam se passar muitos anos...

 O fogo estalava a brasa, que, leve, ficava pairando, dançando na fumaça quente, que aquecia o velho e seu cachorro...

 Passou o inverno e veio a primavera, algo quebrou aquela melancolia. Pois o clima mudou, as flores brotaram e tudo ficou mais alegre...

 O velho já não sentia mais frio e o cão se pôs a caminhar pelo terreno, em volta da casa...  O cão, que, sempre, mantinha a cabeça baixa, não resistiu e começou a farejar, com o rabo em riste...

 Depois de muito esforço por querer chamar a atenção do velho, saiu um latido rouco, o homem arregalou os olhos, ajeitou a roupa, esfregou as mãos e, como o cachorro, respirou, profundamente, para sentir algum cheiro diferente...

 Resolveu ir investigar, chamou o cão e lá foram os amigos, mais assustados do que curiosos...

Seguiram bem devagar, pois as pernas do velho, já estavam ficando travadas. Passava fome, frio e a comida, ele não a tinha todos os dias...

 Depois de uns trinta minutos, mais ou menos, pararam... O homem não acreditou! À sua frente, estava se erguendo uma enorme e linda casa!

 Deu a volta no local e lá, em uma linda placa, estava escrito: “A felicidade mora neste Chalé”. Ficou olhando o desenho da placa, maravilhou-se com aquilo, pois sabia que a felicidade existia ...

 Há anos, não via algo tão lindo, uma casa, pessoas sorrindo, guarda-sóis brancos, cadeiras confortáveis, pensou: - Quanta felicidade! Se deu conta de que nem se lembrava mais de que essa palavra existia...

Ficou por alguns minutos admirando aquela casa, as pessoas sorrindo, conversando e lembrou-se de quando tinha sua família, mulher, que já havia morrido há anos  e  filhos,  que  hoje  não os via mais, nem sabia onde estavam...

 Chamou o cão e voltaram, mais uma vez, em silêncio. Na clareira, se deteve e olhou para sua casa. Lembrou de quando ela era pintada de branco, a grama verdinha, os filhos correndo e brincando em volta da casa...

Continuou imóvel na clareira, contemplou sua casa descascada, velha, sem pintura, a cadeira já bem velha com assento fundo e gasto, o tapete do cachorro mais fino ainda. Marejaram-se  os olhos de tristeza...O cão assustou-se e uma lágrima caiu na roupa do homem...

 

 

 

Heloisa voltou para sua escrita, pegou sua caneta dourada e escreveu: Recordações nos levam para onde, muitas vezes, nem queremos ir...