sábado, 30 de outubro de 2021

Aonde Recordações nos Levam

 

          Aonde Recordações  Nos levam

 

Existe o momento em que as memórias passam pelo tempo, não são percebidas, mas, ainda assim, são eternizadas, muitas vezes em lágrimas ou risos...

Assim era a vida de Heloisa e suas retentivas. Escrevia por horas, dias, meses e assim formava seus contos, escrevendo com sua caneta dourada...

 Cada letra escrita se transformava em palavras, vidas, que se trançavam, cruzando páginas e mais páginas com sua caneta dourada, onde as Reminiscências a levavam... Tudo, o que por aquelas páginas se escrevia, se enlaçava em suas recordações...                   Confusa, por vezes, Heloisa ficava tentando voltar, desfazendo o que já havia escrito...

 Mas, aos poucos, ela ia percebendo que, o que parecia estar errado, naquelas folhas, davam uma beleza ao seu escrito, que lhe dava personalidade...

Para sua alegria, observou que, ali, suas Impressões estavam sendo relatadas como, realmente, o eram, sendo levada pelos lembretes...

 Parecia que iria atingir o mundo com seus escritos, que, por vezes, pareciam flores, ou estrelas, que acentuavam o trabalho de uma vida e de longo tempo...

 As lágrimas de Heloisa faziam com que as páginas se tornassem um desafio à sua caneta dourada, que rangia ao forçar a letra entre suas lágrimas. Com seu sorriso, enxugava as páginas, e continuava seu trabalho, sendo levada por todas as suas ideias...

 Vez por outra, ela percebia um fio caído na página e sorria, era um cílio, tirava, colocava na palma da mão, fazia um desejo e contava quantos tapas deu na mão, para que ele se soltasse, o número indicaria o tempo do desejo se realizar e, sorrindo, voltava a escrever...

 Perdida, em suas nostalgias, ali ficava, ao lado de sua caneta dourada, com os olhos desejosos, para terminar de alinhar tudo e desalinhar o pensamento de quem iria ler...

 Heloisa, apenas, sorria, como se soubesse das memórias de cada um... Escrevia aqui, arrumava ali, e, assim, continuava a colocar no papel, em branco, todas suas recordações...

 Conhecimentos, que a levassem por caminhos floridos, caminhos do coração...

 Muitos caminhos de suas tradições eram formados de pedra batida e seca, caminhos desertos, onde a solidão, vez ou outra, aparecia...

 Mas, Heloisa achava interessante a solidão, que muitos sentiam, de caminhos incertos e sem razão...

 Pois, muitas vezes, gostava de ficar sozinha, mas, jamais sentia solidão...

Parava, por alguns instantes, segurando sua caneta dourada e pensava: Caminhos são escolhas, que cada um faz, nesses caminhos poderemos nos perder, ou, quiçá, nos encontrarmos com nossos alvitres...

 Heloisa continuava, pois, o seu sorriso era puro, sua felicidade seria capaz de iluminar todo o mundo. Pois, sabia ser liberta das sugestões tristes, sendo, extremamente, feliz...

O tempo de suas invenções retratava lugares reais ou imaginários, tramas, romances e outros tantos...

 Suas invenções não traziam nada de mistério, apenas lembrava de passagens reais, que ficaram em sua  memória  e as colocava no papel. Sempre usando a  sua caneta dourada...

Saía, sempre, em busca de algo, que encontrava em seu passado, buscando algo difícil de se perceber que sempre existe e existirá.Indiques, que  podem, muito bem, ser resolvidas...

 Sempre, as propostas levavam Heloisa, por uma busca de algo difícil de ser encontrado, mas, tinha a certeza, de  que, sempre, estiveram lá...

-Onde nossas reminiscências nos levam? Pensava ela, mas, logo recordava de histórias, que estavam guardadas em suas memória e que, agora, poderiam ser relembradas...

 Seus anseios a levaram para bem longe, onde podia recordar de um homem, que vivia solitário com seu cachorro, cada qual no seu canto, na varanda de uma casa, que ficava no meio da devassidão de uma floresta...

Seus olhos distantes, olhando além da janela, lembrou-se dessa cena, que havia visto no passado, de um homem e seu cachorro...

 Dias e noites passavam e tudo permanecia como de costume, calor, frio, não se percebia o som da música, que o vento, cuidadosamente, trazia, o cheiro da primavera e nem as cores que generosamente se desdobravam para chamar a  atenção, daquele homem, quase que gritando: Oi, é chegada a primavera!

 Nada parecia despertar a atenção do homem e seu cachorro. Só reclamava do inverno, essa estação fria, que parecia despertar os dois de uma inércia irritante...

 O homem, com frio nos ossos, do cobertor velho, surrado, da pouca comida... O cão uivava, quando ia urinar nas árvores, que o ignoravam por completo...

 Entretanto, o homem nunca prestava atenção no que estava logo, ali, bem à sua frente. Poderia ser uma cena alegre ou triste, para ele tanto fazia...

 La estavam dois amigos, que não sabiam viver, um não falava, outro não latia, tudo era silêncio, sem vida e, assim, poderiam se passar muitos anos...

 O fogo estalava a brasa, que, leve, ficava pairando, dançando na fumaça quente, que aquecia o velho e seu cachorro...

 Passou o inverno e veio a primavera, algo quebrou aquela melancolia. Pois o clima mudou, as flores brotaram e tudo ficou mais alegre...

 O velho já não sentia mais frio e o cão se pôs a caminhar pelo terreno, em volta da casa...  O cão, que, sempre, mantinha a cabeça baixa, não resistiu e começou a farejar, com o rabo em riste...

 Depois de muito esforço por querer chamar a atenção do velho, saiu um latido rouco, o homem arregalou os olhos, ajeitou a roupa, esfregou as mãos e, como o cachorro, respirou, profundamente, para sentir algum cheiro diferente...

 Resolveu ir investigar, chamou o cão e lá foram os amigos, mais assustados do que curiosos...

Seguiram bem devagar, pois as pernas do velho, já estavam ficando travadas. Passava fome, frio e a comida, ele não a tinha todos os dias...

 Depois de uns trinta minutos, mais ou menos, pararam... O homem não acreditou! À sua frente, estava se erguendo uma enorme e linda casa!

 Deu a volta no local e lá, em uma linda placa, estava escrito: “A felicidade mora neste Chalé”. Ficou olhando o desenho da placa, maravilhou-se com aquilo, pois sabia que a felicidade existia ...

 Há anos, não via algo tão lindo, uma casa, pessoas sorrindo, guarda-sóis brancos, cadeiras confortáveis, pensou: - Quanta felicidade! Se deu conta de que nem se lembrava mais de que essa palavra existia...

Ficou por alguns minutos admirando aquela casa, as pessoas sorrindo, conversando e lembrou-se de quando tinha sua família, mulher, que já havia morrido há anos  e  filhos,  que  hoje  não os via mais, nem sabia onde estavam...

 Chamou o cão e voltaram, mais uma vez, em silêncio. Na clareira, se deteve e olhou para sua casa. Lembrou de quando ela era pintada de branco, a grama verdinha, os filhos correndo e brincando em volta da casa...

Continuou imóvel na clareira, contemplou sua casa descascada, velha, sem pintura, a cadeira já bem velha com assento fundo e gasto, o tapete do cachorro mais fino ainda. Marejaram-se  os olhos de tristeza...O cão assustou-se e uma lágrima caiu na roupa do homem...

 

 

 

Heloisa voltou para sua escrita, pegou sua caneta dourada e escreveu: Recordações nos levam para onde, muitas vezes, nem queremos ir...




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