Ambicionamos comparar a nossa vida ao manar da água...Agora somos um riacho de montanha, corremos, impetuosamente, saltando de pedra em pedra, formando corredeira. O barulho do nosso corpo, quando pulamos pelas rochas, preenche o ar desde os cumes até os acodes...
Algum dia, no entanto, nos tornaremos rios de planície, calmos, repletos, preguiçosos, e já não faremos mais barulho, a não ser o farfalhar produzido pelo vento, ao acariciar as folhas dos salgueiros, que ficam em nossas margens...Isso seria muito desagradável, pois um ribeiro de planície, calmo e preguiçoso, não seria para nós... *Gostaríamos, mesmo, de ser uma torrente, que desce pela montanha e que pudéssemos pular de pedra em pedra, a contemplar a fauna e o seu verdor...Esse regato assemelha-se a ser modesto demais, muito pequeno, e, além disso, abominamos a ideia de acabar no raso...
Não almejamos ser um afluente, queremos ser um ribeirão, que desemboca, diretamente, no infinito do oceano...Nossa paixão é pelo rio... Aspiramos passar horas observando a extraordinária fauna, que podemos admirar em seu caminho. Botos-cor-de-rosas que se erguem ao longo do seu curso...
Deixe-nos, alegremente, ser uma torrente, que desemboca no grande oceano, pois não são todos os riachos, que seguem para o mar...
Marilina Baccarat de Almeida Leão no livro "Corre Como Um Rio"
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